Ruídos do silêncio

Por: Eliana Rezende

Escrito por: Eliana Rezende - Curitiba, Março de 2014
A experiência do silêncio em uma sociedade tão ruidosa como a nossa pode causar estranheza, perturbação ou mesmo um sentido de estar esquecido, à margem de algo ou alguma coisa.

Às vezes, o silêncio tem um som ensurdecedor e quando vem da alma pode conter ainda mais ruídos.

Os ruídos das memórias fazem com que, em inúmeras vezes, nos sintamos atordoados pelos seus sons. Trazem-nos experiências vividas, caminhos trilhados, experiências compartilhadas ou o seu contrário: caminhos interrompidos, laços desfeitos, ideias e projetos inacabados.


Conviver com tais ruídos pode fazer pensar que a surdez seja o caminho mais desejável nessas horas.

Mas o silêncio aqui referido não é aquele exterior vindo de fora para dentro. Aquele que muitas vezes e em vão buscamos em lugares e espaços físicos artificiais ou naturais. É o silêncio interior, aquele que faz com que pensamentos e problemas pessoais fiquem longe e deixem espaços para que o pensamento criativo trafegue rápido e ágil por saberes e fazeres que acrescentem. Que tragam largura ao espírito e que aprofundem sua sabedoria e autoconhecimento.

É tranquilizador saber que estes silêncios não tem que estar ligados a momentos e espaços formais, mas que podem vir de toda e qualquer experiência propiciada por viagens e deslocamentos físicos ou mentais, por travessias de fronteiras não medidas em quilometragens e marcos geográficos, mas sim por aqueles abismos d'alma que como vales profundos nos fazem encontrar com nossos limites finitude.

Silêncios que vêm de experimentações e sensações oriundas de diferentes expressões artísticas, culturais, olfativas, gustativas - cabem aqui filmes, exposições, experiências gastronômicas, ou seja, tudo o que se ofereça aos sentidos reflexão contemplativa.


Mas esse silêncio povoado pelos ruídos da alma faz muito barulho e rapidamente descobrimos que quem nos habita pode ter muito mais a dizer que qualquer coisa que esteja lá fora; seja aparentemente ruidoso ou silencioso. 

Esse silêncio de alma ou os seus ruídos devem ser considerados como as vagas que encontramos no mar: são sempre prenúncios de algo. Do lado de cá, temos mesmo é que aprender a decodificá-los e entender que eles possuem seu formato de "escrita" em nós. Vincam caminhos, traçam percursos, indicam trilhas, opções, trechos abandonados, rumos perseguidos. Nos dizem de onde viemos e para onde vamos. 

Atordoa-me apenas quando os ruídos de dentro sendo tão maiores calam os de fora, e causam em seu possuidor o temor de com ele se encontrar. O bom mesmo é quando ruído e silêncio encontram a harmonia de sons, sem sobras e nem faltas.

O que de fato fica como dica é talvez respeitar tanto um quanto o outro e encontrar suas formas de manifestações em nós. 

Experimente desligar os sons externos (fones, iPhones, tv, e tudo o que está a tua volta) e ouça o que vem de dentro de você: faça-se companhia! Descubra o que o teu EU tem a lhe dizer. Talvez descubra que esteve tanto tempo ao lado de quem você nem conhece direito.  Não tenha receio do que os sons da tua alma venham a lhe revelar. Você não está sozinho: está em tua companhia! Descubra que escrita tua alma tem e que mensagem traz. 

Abraços e tenha atenção aos seus silêncios e seus ruídos, buscando neles o que te falta para aqueles lampejos de inspiração: serão úteis de fato! É só ouvir...


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Comentários

  1. Querida Elizanda,
    Tu texto es precioso.,
    Conozco este ruido de fondo, del interior, lo he vivido con intensidad en el pasado, hasta que decidí desconectarme un poco de él, Pensarás que es una equivocación y posiblemente lo es. Pero, cuando vives en la introspección casi contínua es practicamente imposible avanzar. Más aún si el ruido de tu interior de ata al pasado.
    Sin embargo, es bien cierto como dices que ese escuchar nuestro interior es una fuente potente de inspiración creativa. Seguramente porque en esa fuente conviven nuestro resgistro de nuestras experiencias y nuestros sentimientos. También es verdad que el demabular continuo que marca nuestro vivir cotidiano en el mundo actual nos aleja de poder conectar con esa voz interior; ese deambular que es también estar sentado en el sofá de casa a la vez que llevamos los cascos para escuchar música; mirar la televisión, escuchar la rádio o machacando el teclado de nuestro ordenador. Esa saturación de información externa en verdad ahoga la sonoridad profunda de nuestro ser y al dejarla ahí cerrada perdemos un poco de nuestra humanidad. Para muchos, por suerte, cada vez para menos, hacer yoga o meditación es una pérdida de tiempo, cuando esas prácticas nos liberan de la prisión de las presiones a las que nos vemos sometidos como individuos comunitarios (animales políticos, que diría Aristóteles). Lo malo es que la alienación a la que nos vemos conducidos desde la misma escuela hace que tal pérdida pase desapercibida o menospreciada. Todo eso no da plata, que dirían en su tierra. Hemos llegado a pensar eso, que lo que no se traduce en bienes materiales no tiene valor. Posiblemente por ello las consultas de psicólogos y psiquiatras están cada vez más llenas. Y es que en el fondo no podemos desconectarnos de nuestra voz interior. Seguramente, si no sintiera algo del eco de esas voz nada de lo que he escrito aquí lo hubiera podido escribir. Me falta arte. pero por ahí hay un soplo de vida interior que reclama su sitio en el aire.

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    1. Olá Jaume...
      Muito grata!
      Que bom que o texto te fez ponderar sobre os ruídos da tua alma.
      Acho que nossa sociedade ruidosa é também uma sociedade amedrontada!
      Teme de todas as maneiras estar consigo mesma e descobrir que trabalhar e acumular (isso no que diz respeito à cifras) tanto pode não estar lhe fazendo verdadeiramente feliz.
      Na nossa civilização, as pessoas chegam a achar que o silêncio é o sinônimo de estar só e acham que isso seja um problema de rejeição e desafeto: acreditam que isso lhes mostraria que não são amadas.
      No entanto, não é nada disso! O silêncio é cheio de tantas coisas. Ele é excelente companhia e de fato nos faz saber quem somos e do que de fato somos feitos e como preenchemos em nós vazios.
      Exercito o silêncio todos os dias em especial quando chego em casa: acendo apenas uma luz de cada vez e não ligo nada... vou me aquetando do dia... vou tomar banho, e em vários dias nadar... Contar azulejos dentro da água pode ser recuperador! A mente se esvazia e a respiração oxigena ideias e sensações. Para quem, como eu, vive da escrita e da fala é fundamental!
      Abs ruidosos

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  2. Graziella Zoboli
    Coordenadora de Curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia-INPG + criadora e tutora de cursos EaD . na INPG e INSTITUTO S

    Eliana,
    Boa Tarde !
    Os ruídos do silêncio, são fortes, para quem se concentra neles e sabe ouvir seu coração, sabe ouvir o que lê, quando se debruça sobre um texto, sobre uma idéia ou fato. Se fecharmos os olhos e ficarmos com todos os sentidos alerta, ouviremos muitos sons, que no dia-a dia seriam inaudíveis.Poderemos ouvir o som do vento, o som dos pássaros, o som
    dos gritos da alma de quem sofre e não consegue se expressar, o som da injustiça, da fome, da intolerância, do descaso e muitos outros .........
    Abraço,
    Graziella,

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    1. Olá Graziella...
      Os ruídos do silêncio são muitos.
      Em todos os não ditos e em especial dos que vem de dentro.
      Aprender e ter sensibilidade para essa escuta é tbm forma de autoconhecimento.
      Lucraríamos muito em aprender a desenvolver essa audição.
      Abs

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  3. Angelo Dantas de Oliveira

    Professor na Secretaria de Educação do Estado da Bahia

    Olá estimados! O momento mais ensurdecedor do silêncio é quando nos deparamos com a nossa própria consciência. Aquele lapso temporal que pode se dar em segundos ou em dias, meses, anos a fio, em busca do sentido do estar vivendo em sociedade. É nesse momento que questionamos essa busca e reafirmamos os nosso valores mais intrínsecos, aqueles que referenciam o nosso pensar, o nosso falar, o nosso agir. É no silêncio que construímos a nossa coerência.

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    1. Ol@ Angelo...
      Muito grata por teu comentário que nem tem como se fazer reparo!
      É isso mesmo: encararmos a nós mesmos é o meio de conseguirmos ser iguais a nós mesmos. Lapidar arestas e entendermos de onde viemos e para onde vamos.
      Obrigada por compartilhar tua reflexão com todos nós!
      Abs

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  4. Graziella Zoboli
    Olá Eliana e todos os participantes !
    Hoje me lembrei de uma tema inclusive caiu no meu Vestibular, em tempo idos Era uma frase de Wiillian Blake e que dizia mais ou menos assim: Triste ideal seria o de um mundo onde não houvesse lugar para a solidão - Refleti esse tema é realmente esse silêncio, essa solidão sempre será povoada com nossos ruídos internos proveniente, de nossos desejos, nossos acertos, nossos erros, nosso perdão, nossa espiritualidade, nossas relações conosco e com os outros....
    Apenas uma reflexão que gostaria de partilhar com vocês.
    Abraços,
    Graziella B.Zóboli

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    1. Ol@ Graziella...
      Em verdade acho que não está falando de solidão e sim de solitude (que é a capacidade de estar só consigo mesma).
      O que muito s não percebem é que podemos ser excelentes companhias para nós mesmos. Solidão não existe! Desde que saibamos nos "povoar"!
      Abs e obrigada por compartilhar conosco

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  5. Como é bom ouvir palavras de amor, outro dia fui despertado por elas.
    Obrigado pelo texto Eliana.

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    1. Ol@...
      A grande sacada pe perceber que grandes sentimentos não precisam das palavras! O silêncio assim pode gritar!
      Abs

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