Vida sustentável nas Cidades é Cultural. E, isto se aprende!

Por: Eliana Rezende

Há algum tempo lia sobre como seriam as cidades do futuro.
E uma das primeiras coisas que me ocorreu era se realmente o título seria adequado: porque falar em cidades do futuro se hoje é o momento em que vivemos? O que gestores públicos e entidades civis podem e devem fazer para que esta transformação ocorra hoje e não num futuro utópico? Como áreas interdisciplinares podem trazer sua contribuição?
Quais seriam estas contribuições? Como cada um individualmente pode fazer a sua parte?

Parque Barigui - Curitiba - PR

Parque Barigui - Curitiba - PR 
O caminho que temos a construir é lento e longo.
As estruturas arquitetônicas podem facilmente ser esboçadas em excelentes projetos, mas colocá-los em pé com eficiência sustentável e com custos módicos é bem mais difícil...
No caso específico da matéria que lia, eram apontadas todas as possibilidades tecnológicas e de planejamento que as cidades terão no futuro e que poderiam melhorar os modos de ser e estar em centros urbanos. Acontece que na minha compreensão não adianta a melhor tecnologia do mundo se as pessoas simplesmente não são capazes de adotar hábitos pessoais e sustentáveis de vida!

Para além de tudo, temos o caminho da educação para a sustentabilidade em muitos e variados campos. Este talvez seja o mais difícil e demorado. As pessoas de fato se conscientizarem e mudarem suas ações.

As cidades precisam ainda encontrar modelos para se tornar inteligentes a um custo razoável, de forma que os cidadãos se sintam mobilizados a participar. Uma verdadeira rede humana de concidadãos. Onde o que afeta um, afetará, de uma forma ou outra, todos.

Foto: Marcelo Rosenbaum/Lar Doce Lar - Aprenda fazer clicando aqui
Acredito muito em mobilização responsável e a elaboração de instrumentos de cobrança. A sugestão aqui apresentada é muito interessante e permite uma base mínima para cobrança posterior. O dito, muitas vezes, não vale o escrito. Portanto um compromisso assim pode até não ser cumprido, mas é uma carta de intenções - o que para nós, que estamos engatinhando, já é um bom começo.

Desenhar áreas e Cumprir leis que determinem um mínimo de áreas permeáveis e o plantio de árvores nas calçadas pode contribuir com a redução das ilhas de calor e aumentar a recarga de aquíferos, ajudando também a reduzir enchentes. Além disso, pode oferecer alimento a pássaros e pequenos mamíferos que, sem florestas e matas, vêm para as cidades.

O retorno dos quintais arborizados e gramados dos anos 1950/1960, quando a população começava a deixar a zona rural, é uma iniciativa que pode ajudar a melhorar a qualidade de vida das cidades reduzindo a aridez do concreto e do asfalto.


Simples medidas cidadãs e de bom convívio entre pessoas, animais e plantas.
Isso é fácil de notar, mesmo morando em uma cidade como São Paulo. Tenho o privilégio de morar em uma casa com gramado e árvores, algumas frutíferas, e vejo o quanto há de mudança térmica quando avanço pelo portão de minha casa: vários graus abaixo do que a rua oferece.

Além é claro de ver pássaros vir tomar banho e comer dos frutos que amadurecem. Ou seja, não é preciso grandes coisas. Os que não possuem espaço podem ter até minhocário em casa com caixas feitas para isso. Com a possibilidade de transformar seus resíduos sólidos orgânicos em adubo. As varandas podem ter jardineiras com pequenas hortaliças.
Apenas uma mudança simples de atitude e em ser responsável pelo seu entorno.

Talvez possamos gerenciar as "facilities" do nosso próprio espaço, nossas casas, nossos condomínios de uma forma "mais" sustentável. Pequenas mudanças nos sistemas elétrico, hidráulico, sanitário, pluvial, na seleção de lixo, na compostagem, no aproveitamento de outras fontes de energia, etc provoca mudanças até na cultura da sociedade, mas é necessário realmente implementá-las na nossa rotina.

Acho que é uma questão de hábito!
Moro em São Paulo, mas por força de trabalho viajava muito à Curitiba que já tinha um trabalho de uso de sacola retornável. Gostava daquilo, comprei minhas sacolas e comecei usá-las em São Paulo desde 2007. Naquele tempo era impensável alguém chegar em um supermercado com suas próprias sacolas! Era interessante que as próprias caixas do supermercado elogiavam quando eu não aceitava as sacolas.
Não custou-me nada. E faz muita diferença!


Meu lixo é todo separado e uma vez por semana levo em um ponto de recolha e os orgânicos separo e tenho sempre terra vegetal para vasos e plantas, além de não ter cheiro ruim ainda alimentam pássaros que revolvem os restos de frutas e folhas. É um ciclo de natureza fantástico e muito fácil de implementar...

As folhas que caem uso-as também como compostagem e não tenho que ficar carregando lixo daqui para ali. O jardim ganhou uma trituradeira de folhas e galhos. Agora não temos mais que jogar fora o que é podado. Tudo volta às plantas que a produziram, agora como adubo e folhagem para reter a umidade da terra (que é regada com água captada da chuva). Aqui foi de novo um outro grande passo: captar a água da chuva garante que num dia de chuva forte a cisterna de 1.000 litros se encha em 5-8 minutos dependendo da intensidade da mesma!

O carro comecei a parar de usar nos idos de 2011, e era um grande alívio não ter que dirigir no caos de São Paulo. Inverti a proporção de uso do carro com o rodízio de veículos. Em vez de deixar o carro em casa um dia da semana e usar nos outros fazia exatamente o contrário. Assim,  passei a rodar com o carro um dia por semana para fazer compras e cumprir atividades que só de carro seriam possíveis.  Os demais dias o carro ficava na garagem. Até que finalmente me livrei dele em 2012 e de todas as suas despesas fixas, que eram descabidas e intermináveis como: IPVA, seguro, estacionamento, combustível, peças, revisões, pneus, que eram muito caras. Se pegasse um táxi quando precisasse ainda seria mais barato do que manter um carro todo o tempo.


Mas infelizmente as pessoas preferem se encapsular em seus veículos e ter a falsa impressão de liberdade, presos em algum engarrafamento, disputam locais para estacionar e dão graças a Deus quando encontram seus veículos onde deixaram. Seguem todos em filas duplas com veículos de cinco lugares e que transportam sempre um único passageiro. Nem carona solidária existe como hábito nas grandes cidades. Contradições em vidas modernas!

As pessoas acotovelam-se para sempre ter a prioridade com seu veículo que é quase sempre o mais importante do mundo. E caminhar nem pensar! O carros em geral, teriam que, ao gosto popular, entrar dentro dos estabelecimentos e a cidade inteira ser convertida em um grande e interminável drive-thru.

Morei fora do Brasil algumas vezes e aprendi que podemos viver com muito menos. Não dá para atravessar oceanos carregando todos os pertences. Nossa vida precisa caber no espaço estrito de 32 kg de bagagem. 
Diante disso, vamos descobrindo que não precisamos de tantas coisas para viver. E muitas vezes, o que seria conforto acaba sendo uma enorme dor de cabeça.


Mas vamos tentando... isso é cultural e se aprende!
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Comentários

  1. Ah, que felicidade existir pessoas como a Eliana Rezende, que vive saudavelmente, e nos relata o que todos nós podemos fazer, e tornarmos o mundo sustentável, agradável e mais bonito!!!
    Mãos à obra!!!

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    Respostas
    1. Ol@ Teruko...
      Obrigada!
      Acredito muito que a vida e a forma como nos relacionamos com ela é tbm escola.
      Não são grandes e absurdos movimentos, mas sim pequenas ações cotidianas que dão o tom da diferença. E a cada passo dado mais motivação temos para prosseguir.
      Por isso, não disse nada que eu própria já não fiz. Acredito em atitude pela vida!
      Abs

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  2. Muito interessante e desafiador. É preciso ter muita disciplina e força de vontade para essa mudança. Vou começar a repensar as minhas prioridades.

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    Respostas
    1. Ol@...
      Desafiador sim, e por isso tão importante!
      Afinal é algo que temos que fazer por nós e não lago que encontramos prontos em alguma prateleira.
      Fico muito feliz que vc esteja reconsiderando suas prioridades.
      Depois deixe-me saber se conseguiu...
      Abs

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  3. Eliana, peço autorização para divulgar seu post em minha página no facebook:
    https://www.facebook.com/MilenaTeixeiraArquiteturaSustentabilidade

    Também escrevo uma coluna fixa às terças no site: http://www.oregador.com/

    Através dessa page e do site, tento difundir conceitos de sustentabilidade para as pessoas de uma forma geral, numa linguagem simples e direta. Porque a falta de conhecimento no assunto e em tudo o que envolve é um problema, ainda que o tema seja abordado de forma aleatória na mídia.

    Sou Arquiteta e Urbanista e penso muito como você... Me interesso pelo tema da sustentabilidade desde cedo, e mesmo quando entrei na faculdade comecei a estudar o assunto sozinha, porque nem mesmo em nossas Universidades o tema é devidamente abordado. Fica complicado abordar e falar sobre um tema de grande importância se nossas universidades não formam profissionais capazes de discutir sobre esse assunto tão em voga, mas ainda tão pouco aceito e difundido.

    O brasileiro de fato não sabe sobre o assunto e nem procura saber. De uma maneira geral, considero o brasileiro acomodado... Não busca se informar, não buscar se juntar com outras pessoas e assim ir atrás de soluções em conjunto para seus bairros, ruas, condomínios, ou o que for... Falta aquela noçãozinha básica de VIDA EM COMUNIDADE, que é uma das essências chave da sustentabilidade. Não dá pra pensar em termos um desenvolvimento urbano mais equilibrado se não desenvolvermos o senso de vida em grupo nas pessoas. Temos de deixar de lado a ideia de que queremos somente nossa grama e nosso jardim mais verdes: é interessante que toda a floresta renda frutos e prospere, pois só assim todos conseguem ir pra frente de forma equilibrada.

    Mas acredito também que essa mentalidade meio egoísta e autocentrada é um problema geral, e não somente do brasileiro, ainda que aqui seja mais acentuado, porque também é a realidade em que vivemos. O Brasileiro não tem aquele senso de civilidade, de como se comportar para ser um cidadão exemplar, um bom vizinho, um bom profissional, mas sem ser mesquinho e buscar somente crescimento pessoal, mas também um crescimento de todos ao seu redor. Afinal, se temos um ambiente saudável e pessoas realizadas ao nosso redor, então esse ambiente será favorável para nós mesmos...

    Concordo: temos de começar a buscar mudanças positivas em nós mesmos se queremos fazer exigências aos outros, e isso inclui exigências aos nossos governantes. Não adianta exigir que o prefeito realize obras públicas decentes se quando vamos construir nossa própria casa a gente afeta negativamente a vida de todos os vizinhos, derruba árvores saudáveis e destrói nascentes... Se queremos exigir que nossos governantes governem de forma exemplar, temos de dar o exemplo nós mesmos... E a gente só começa esse tipo de "pequena revolução" em nossas pequenas atitudes diárias, na retirada do lixo, no exercício de nossa profissão... E só depois podemos tentar mobilizar o condomínio, a rua, o bairro...

    Falta ainda conhecimento. As pessoas não possuem noção alguma sobre o que diabos significa ser sustentável. Porque seria vantajoso adotar atitudes mais conscientes, mais ecológicas, menos poluentes... A pessoas são imediatistas, pois vivem num mundo em que tudo passa rapidamente: informações vem e vão, notícias brotam do nada, a tecnologia se atualiza num ritmo frenético, então as pessoas estão se habituando a exigirem respostas imediatas para tudo e estamos criando uma geração de seres impacientes que não sabem se planejar pra obterem resultados em longo prazo. Estamos esquecendo de pensar corretamente no nosso futuro, porque estamos ansiosos demais.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ol@ Milena...
      Pode divulgar sim! Dando o crédito está tudo certo!
      Será um prazer...
      Agora sobre seu comentário: acho que há aqui um misto de coisas. Falta de educação formal, mas tbm falta de autoconhecimento... de uma busca por algo que vá além simplesmente do consumo e do possuir. Acho que é aquela centelha de querermos fazer tais coisas pq fazem bem a nós e ao próximo.
      Concordo Milena que as pessoas não tem esse sentido de coletivo, de social que é tão importante nestas concepções todas.
      Sustentabilidade é tbm um modo de vida. Vc não consegue fazer pelas metades. Dá trabalho? Depende do que considera trabalho....
      Mas acredito muito que seja um meio de alargarmos nossa consciência social e tudo o que pudermos fazer é bem vindo! Como disse no post: não são em grandes coisas que mostramos este cuidado. São nas pequenas coisas: deixar o carro e ir a pé, por exemplo...Juntar água de chuva para regar plantas e salvar a água da ma´quina de lavar roupa para lavar a calçada, ter sua caneca no trabalho... pequenas, rotineiras e pontuais coisas que fazem toda a diferença.
      Abs e muito grat@ pela partilha!

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