29 de ago. de 2014

Vida sustentável nas Cidades é Cultural. E, isto se aprende!

Por: Eliana Rezende

Há algum tempo lia sobre como seriam as cidades do futuro.
E uma das primeiras coisas que me ocorreu era se realmente o título seria adequado: porque falar em cidades do futuro se hoje é o momento em que vivemos? O que gestores públicos e entidades civis podem e devem fazer para que esta transformação ocorra hoje e não num futuro utópico? Como áreas interdisciplinares podem trazer sua contribuição?
Quais seriam estas contribuições? Como cada um individualmente pode fazer a sua parte?

Parque Barigui - Curitiba - PR

Parque Barigui - Curitiba - PR 
O caminho que temos a construir é lento e longo.
As estruturas arquitetônicas podem facilmente ser esboçadas em excelentes projetos, mas colocá-los em pé com eficiência sustentável e com custos módicos é bem mais difícil...
No caso específico da matéria que lia, eram apontadas todas as possibilidades tecnológicas e de planejamento que as cidades terão no futuro e que poderiam melhorar os modos de ser e estar em centros urbanos. Acontece que na minha compreensão não adianta a melhor tecnologia do mundo se as pessoas simplesmente não são capazes de adotar hábitos pessoais e sustentáveis de vida!

Para além de tudo, temos o caminho da educação para a sustentabilidade em muitos e variados campos. Este talvez seja o mais difícil e demorado. As pessoas de fato se conscientizarem e mudarem suas ações.

As cidades precisam ainda encontrar modelos para se tornar inteligentes a um custo razoável, de forma que os cidadãos se sintam mobilizados a participar. Uma verdadeira rede humana de concidadãos. Onde o que afeta um, afetará, de uma forma ou outra, todos.

Foto: Marcelo Rosenbaum/Lar Doce Lar - Aprenda fazer clicando aqui
Acredito muito em mobilização responsável e a elaboração de instrumentos de cobrança. A sugestão aqui apresentada é muito interessante e permite uma base mínima para cobrança posterior. O dito, muitas vezes, não vale o escrito. Portanto um compromisso assim pode até não ser cumprido, mas é uma carta de intenções - o que para nós, que estamos engatinhando, já é um bom começo.

Desenhar áreas e Cumprir leis que determinem um mínimo de áreas permeáveis e o plantio de árvores nas calçadas pode contribuir com a redução das ilhas de calor e aumentar a recarga de aquíferos, ajudando também a reduzir enchentes. Além disso, pode oferecer alimento a pássaros e pequenos mamíferos que, sem florestas e matas, vêm para as cidades.

O retorno dos quintais arborizados e gramados dos anos 1950/1960, quando a população começava a deixar a zona rural, é uma iniciativa que pode ajudar a melhorar a qualidade de vida das cidades reduzindo a aridez do concreto e do asfalto.


Simples medidas cidadãs e de bom convívio entre pessoas, animais e plantas.
Isso é fácil de notar, mesmo morando em uma cidade como São Paulo. Tenho o privilégio de morar em uma casa com gramado e árvores, algumas frutíferas, e vejo o quanto há de mudança térmica quando avanço pelo portão de minha casa: vários graus abaixo do que a rua oferece.

Além é claro de ver pássaros vir tomar banho e comer dos frutos que amadurecem. Ou seja, não é preciso grandes coisas. Os que não possuem espaço podem ter até minhocário em casa com caixas feitas para isso. Com a possibilidade de transformar seus resíduos sólidos orgânicos em adubo. As varandas podem ter jardineiras com pequenas hortaliças.
Apenas uma mudança simples de atitude e em ser responsável pelo seu entorno.

Talvez possamos gerenciar as "facilities" do nosso próprio espaço, nossas casas, nossos condomínios de uma forma "mais" sustentável. Pequenas mudanças nos sistemas elétrico, hidráulico, sanitário, pluvial, na seleção de lixo, na compostagem, no aproveitamento de outras fontes de energia, etc provoca mudanças até na cultura da sociedade, mas é necessário realmente implementá-las na nossa rotina.

Acho que é uma questão de hábito!
Moro em São Paulo, mas por força de trabalho viajava muito à Curitiba que já tinha um trabalho de uso de sacola retornável. Gostava daquilo, comprei minhas sacolas e comecei usá-las em São Paulo desde 2007. Naquele tempo era impensável alguém chegar em um supermercado com suas próprias sacolas! Era interessante que as próprias caixas do supermercado elogiavam quando eu não aceitava as sacolas.
Não custou-me nada. E faz muita diferença!


Meu lixo é todo separado e uma vez por semana levo em um ponto de recolha e os orgânicos separo e tenho sempre terra vegetal para vasos e plantas, além de não ter cheiro ruim ainda alimentam pássaros que revolvem os restos de frutas e folhas. É um ciclo de natureza fantástico e muito fácil de implementar...

As folhas que caem uso-as também como compostagem e não tenho que ficar carregando lixo daqui para ali. O jardim ganhou uma trituradeira de folhas e galhos. Agora não temos mais que jogar fora o que é podado. Tudo volta às plantas que a produziram, agora como adubo e folhagem para reter a umidade da terra (que é regada com água captada da chuva). Aqui foi de novo um outro grande passo: captar a água da chuva garante que num dia de chuva forte a cisterna de 1.000 litros se encha em 5-8 minutos dependendo da intensidade da mesma!

O carro comecei a parar de usar nos idos de 2011, e era um grande alívio não ter que dirigir no caos de São Paulo. Inverti a proporção de uso do carro com o rodízio de veículos. Em vez de deixar o carro em casa um dia da semana e usar nos outros fazia exatamente o contrário. Assim,  passei a rodar com o carro um dia por semana para fazer compras e cumprir atividades que só de carro seriam possíveis.  Os demais dias o carro ficava na garagem. Até que finalmente me livrei dele em 2012 e de todas as suas despesas fixas, que eram descabidas e intermináveis como: IPVA, seguro, estacionamento, combustível, peças, revisões, pneus, que eram muito caras. Se pegasse um táxi quando precisasse ainda seria mais barato do que manter um carro todo o tempo.


Mas infelizmente as pessoas preferem se encapsular em seus veículos e ter a falsa impressão de liberdade, presos em algum engarrafamento, disputam locais para estacionar e dão graças a Deus quando encontram seus veículos onde deixaram. Seguem todos em filas duplas com veículos de cinco lugares e que transportam sempre um único passageiro. Nem carona solidária existe como hábito nas grandes cidades. Contradições em vidas modernas!

As pessoas acotovelam-se para sempre ter a prioridade com seu veículo que é quase sempre o mais importante do mundo. E caminhar nem pensar! O carros em geral, teriam que, ao gosto popular, entrar dentro dos estabelecimentos e a cidade inteira ser convertida em um grande e interminável drive-thru.

Morei fora do Brasil algumas vezes e aprendi que podemos viver com muito menos. Não dá para atravessar oceanos carregando todos os pertences. Nossa vida precisa caber no espaço estrito de 32 kg de bagagem. 
Diante disso, vamos descobrindo que não precisamos de tantas coisas para viver. E muitas vezes, o que seria conforto acaba sendo uma enorme dor de cabeça.


Mas vamos tentando... isso é cultural e se aprende!
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23 de ago. de 2014

Contradições em vidas modernas

Por Eliana Rezende

Como se traduz o mundo em textos?
Vejo nas áreas de humanidades e em especial no meu caso uma vontade imensa de beber o mundo e depois o colocar em tintas sobre papel. Uma tarefa árdua já que o humano e suas dimensões transcendem nossas possibilidades circunscritas a um espaço recluso em papéis, tintas e outros formatos.

Nem tudo cabe nas entrelinhas e traduzir tantos paradoxos e diversidades muitas vezes beira ao um trabalho insano tomado à punho por poucos. As sociedades se complexificaram e cada vez mais falta-nos condições de compreender e analisar tudo o que nos ocorre.
A modernidade vive cada vez mais paradoxos:


Apartamentos cada vez menores encontram no mercado móveis e TVs cada vez maiores.
Se a casa aumenta em tamanho perde em número de moradores. As famílias cada vez mais vivem os imperialismos dos filhos únicos.  Os aparelhos domésticos mais usuais tornam-se cada vez mais complexos e compartimentados em funcionalidades para facilitar atividades domésticas, e cada vez mais comemos em fast foods!

Produzimos mais alimentos em diversidade e quantidade ao mesmo tempo que desperdiçamos de formas muito mais grandiosas e eficientes.
Competência na arte de perder e desperdiçar.

Os veículos cada mais potentes e com tecnologias que o fazem sair do ponto V0 ao V10 em segundos são sepultados entre tantos outros de igual formato, que perfilados entopem vias e consomem seus combustíveis altamente tecnológicos e desenvolvidos em laboratórios de ponta.

Flores, frutos e espécies paisagísticas são cada vez mais pesquisadas e cultivadas para casas que se estreitam em terrenos e se cobrem de concretos ou se erguem em edifícios que comprimem pessoas e objetos. Pontes estaiadas e rodovias se espalham por áreas urbanas aumentando trechos para que os congestionamentos tenham onde ir e se esplahar. Tecnologias e plataformas favorecem compartilhamentos na exata medida em que se torna mais fácil o botão curtir do que o gesto de trocar, tocar, escutar...


Produzimos quantidades massivas de dados, números, estatísticas que ninguém lê, vê ou sabe para o que servem! Quem se importa com tantos infográficos?!
Criam-se jargões em profusão na razão inversamente proporcional à originalidade criativa de ideias e conteúdos.
Empobrecidos....opacos...repetitivos em fórmulas, palavras, feitos e desfeitos

Informações abissais geram um mar revolto de dados, onde a maioria se afoga e se perde entre uma braçada e outra. O mundo em conexão mostra dia a dia como as sociabilidades e convívios pessoais são cada vez mais raros. Intermediadas todo o tempo, as relações simplesmente se desterritorializam: habitam um locus virtual onde estar significa apenas a distância e o alcance de um clique.

Tradutores instantâneos simulam estreitamento de pares que possuem idiomas diversos. Mas a construção de parágrafos é cada dia mais difícil e rara: um mundo que dia a dia se simplifica a 140 toques e no máximo uma imagem.
Produzimos imagens de tudo e de todas as partes para a seguir ser descartadas pela próxima que vem no instante seguinte. Afinal quem se lembrará da anterior? Para quê servirá?

Um mundo que orbita e se vangloria de ampliação dos espaços virtuais e globais, vê barreiras ideológicas se erguerem por territórios, etnias, gêneros, religiões, culturas levando morte, destruição, genocídios, extermínio aos que dividem os mesmos espaços e fronteiras. Intolerâncias, desrespeito e ódio ao diferente.


A industria farmacêutica avança em pesquisas e remédios e, cada vez mais, doenças se alastrarem e dizimam territórios inteiros. A expectativa de vida aumentou, ao mesmo tempo que relações emocionais perderam anos de sua vida útil. Longevidade de casamentos e relacionamentos assistem uma franca diminuição de seus tempos de parceria.

A vida simplesmente não basta a mais ninguém. O produto de consumo é a juventude eterna! Silicones, pílulas e cirurgias plásticas simulam aprisionar um tempo que já passou. Encastelada em um corpo refeito ano a ano a mente envelhece e descobre o hiato cada vez maior entre o ser e o ter.

São tantas as pergunta, os paradoxos! E tão poucas as respostas...

Maurice Blanchot disse certa vez, em palavras que ficaram famosas, que as respostas são a má sorte das perguntas. De fato, cada resposta implica fechamento, fim da estrada, fim da conversa. Também sugere nitidez, harmonia, elegância; enfim, qualidades que o mundo narrado não possui. Tenta forçar o mundo numa camisa-de — força na qual ele definitivamente não cabe. Corta as opções, a multidão de sentidos e possibilidades que a condição humana implica a cada momento. Promete falsamente uma solução simples para uma busca provocada e impelida pela complexidade. Também mente, pois declara que as contradições e as incompatibilidades que provocam as questões são fantasmas — efeitos de erros linguísticos ou lógicos, em vez de qualidades endêmicas e irremovíveis da condição humana.


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16 de ago. de 2014

Ler de forma produtiva. Mas como?!

Por Eliana Rezende

Muito se tem dito e escrito sobre a qualidade dos leitores em tempos de tantos estímulos digitais.
Desconcentração e desinteresse tendem a encabeçar quase todas as listas.
A seguir e bem de perto estão a preguiça, dificuldade de retenção e compreensão do que se lê.

Sem entrar nos méritos da alfabetização ou sua ausência, do analfabetismo funcional e problemas com o ensino desde sua base, algumas sugestões podem e devem ajudar quem, de fato, quer ou precisa ler e ainda não aprendeu como.

Aqui a sugestão é para leituras técnicas ou de conteúdo profissional e que necessitam de uma outra forma de leitura daquelas que destinamos a romances e entretenimento de horas de lazer.


Vamos ver se consigo:
  • Crie o hábito de tracejar o que lê. Isso mesmo! Use um lápis (nada de marcadores e canetas! Estes estragam seu livro). Procure um lápis macio (6B ou mesmo um integral seriam fantásticos).
  • Munido desta ferramenta aprenda a sinalizar o que lê. Encontre uma sinalética que te dê pistas se o assunto é interessante, repetitivo, se você já leu em outro lugar, etc.
  • Não grife parágrafos inteiros! Escolha palavras que sintetizem a ideia do parágrafo. Assim quando bater os olhos na página não terá que ler todo o conteúdo novamente.
  • Procure anotar títulos que te façam saber do que o parágrafo ou a página tratam.
  • Relacione a leitura desta página com outra que a complemente, ou mesmo outra obra e autor.
  • Estabeleça uma relação com o autor. Faça-lhe perguntas e procure encontrar as respostas enquanto lê. Dessa forma ficará atento e a concentração será consequência deste diálogo silencioso.
  • Este recurso também pode ser usado quando lembrar do argumento de outro autor. Interpele o atual sobre o que o outro disse e tente encontrar uma resposta satisfatória.
  • Tenha sempre um dicionário por perto. A leitura é fantástica para descobrir novos significados para as palavras, bem como seu emprego na construção de uma ideia.
  • Achou uma palavra nova? Não a perca! Escreva ao lado dela o seu significado. Você provavelmente não decorará de primeira.

Logo nas primeiras páginas pergunte-se:
  1. Qual é o objetivo do autor? O que o autor quer com seu escrito? Ele está vendendo uma ideia ou um produto? É importante descobrir qual é o seu objetivo para que ao término da leitura você possa qualificar de boa ou má sucedida sua obra em relação a você. Isto será importante para que você seja capaz de argumentar se gostou ou não do que leu e o quanto ficou convencido pelo exposto.
  2. O que ele está defendendo?
  3. Com quem ele fala? Conversa ou rebate a ideia de outro autor? Ou tenta expor e propor uma nova ideia ou conceito?
  4. De onde o autor fala? Ele é do mercado de trabalho, da academia ou é um empreendedor? Atentar para isso pode ajudar a compreender seus argumentos. Ele procurará falar aos seus pares e saber quem são lhe ajudará a ter mais ferramentas para compreende-lo.
  5. Qual a data da publicação? Essa é uma pergunta interessante, já que se for um autor contemporâneo trará temas mais recentes. Mas às vezes é uma publicação escrita há décadas! Talvez seja um clássico, ou uma leitura obrigatória dentro da área de conhecimento. Saber quando uma obra foi escrita evitará que cometamos erros de interpretação, ou mesmo notar ausências de abordagens, pois estas só ocorreram muito mais tarde.
  6. O autor consegue convencer você ao final? Veja, o convencimento aqui é você cruzar o que era o objetivo inicial dele e como ele foi conduzindo você. Ao final, valeu a pena o percurso? Ele conseguiu cumprir o objetivo que se colocou?
  7. Suas ideias são claras ou já viu outros autores explicando melhor? Tente fazer estas conexões. Isto significará que você não está mais na superfície e que sua leitura está ganhando consistência.
  8. Ao concluir a leitura de um tópico ou capítulo, pergunte-se: "o que mesmo o autor falou?". E neste momento escreva em duas ou três linhas o que respondeu. Isso lhe ajudará a ir fixando as partes importantes de cada capitulo, sessão ou tópico. Ao término da leitura poderá se arriscar a ler tuas anotações e fazer a mesma pergunta só que para o livro todo e redigir um parágrafo síntese.
  9. Pode parecer bobagem, mas fazer isto pouco a pouco o ajudará a ir fixando o conteúdo e imprimindo sua compreensão ao que leu. Com certeza você irá mais longe em sua compreensão.

Se você prestou atenção, os recursos para ler um livro físico são os mesmos que você também pode usar em um livro ou paper digital. A via é a da comunicação. É preciso estabelecer uma relação de troca com o texto, com o escritor. Fale com ele! Feito isto não há leitura que seja difícil ou dura.

Será que quer aplicar comigo estas dicas que falei?
Experimente! E depois me conte!

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10 de ago. de 2014

Escrita executiva: escrever bem é coisa séria!

Por: Eliana Rezende

No mundo corporativo é usual vermos executivos muito preocupados com seu inglês. Investem tempo e recursos na tentativa de o aprimorar julgando que isso o tornará melhor profissional em sua área de atuação.

Todavia, relegam as tarefas de redação, escrita e correção às secretárias, advogados, assessores. Esquecem-se que redigir e expressar-se em sua própria língua é algo fundamental. Deixam de ter claro que saber encadear e expor ideias é tarefa de um bom executivo.


A escrita, tanto quanto a leitura e a fala, são instrumentos de comunicação, e que como tais necessitam de  sentido de clareza, objetividade e correção.

A escrita é boa quando flui inteligível e estreita caminhos entre quem está de um lado e de outro.

Noto que em meios corporativos a escrita técnica avassala de tal forma que as pessoas parecem estar mais preocupadas em reproduzir chavões prontos do que pensar em algo mais original e pessoal ao redigir suas comunicações, infelizmente. Perdemos todos!
Palavras tornam-se bordões, esvaziam-se de sentido e significado. É só pensar em  palavras como inovação, criatividade, resiliência, entre centenas de outras.

O tema é importante de ser tocado por que em vários casos as pessoas esperam ter solucionado seus problemas de escrita apenas pelo uso de um corretor ortográfico e, na melhor das hipóteses, com o inglês corporativo, esquecendo-se de que dominar a língua pátria é a melhor forma de comunicar ideias.

Ser um executivo significa comunicar-se, não apenas usando a linguagem verbal, mas também as formas de escrita: as palavras precisam ser lapidadas e construídas com esmero... sempre! Esmero aqui significa uma linguagem apropriada ao seu objetivo. Ninguém precisará perder horas de seu dia tentando entender um texto mal redigido ou com ideias truncadas. Sem falar em construções com falhas de concordância, ortográficas ou verbais. 

Óbvio está que há diferenças consideráveis e consistentes entre indivíduos e profissões. Nem tenho a presunção de achar que todos em todas as profissões escreverão com a mesma facilidade e propriedade.


O ponto a que me refiro aqui é a escrita como forma de comunicação institucional e corporativa. Aquela que possa servir para comunicar ideais e conceitos. Neste caso, vejo como sendo muito importante o saber colocar-se e se fazer entender com clareza e objetividade por todos. Também não considero problema recorrer a ajuda de um especialista em redação para limpar o texto de aspectos da língua, mas considero que a essência de ideias, o ritmo e fluidez dos pensamentos devem ser de seu autor.

Diferente do escritor literato que fará um caminho de escrita que dependerá de um leitor/interlocutor, o executivo terá um público diverso, onde os códigos de leitura aplicáveis serão bem diferentes. É preciso a paciência lapidar de busca, esmerilho... muitas vezes a poda. Sim! Requer muitas escolhas e muitas mudanças de rumo e caminho. Talvez por isso seja um caminho de resistência e paciência.

É desse exercício cotidiano que se ganha "intimidade" com as palavras que encadeadas exprimem ideias e iluminam caminhos: por isso, ao trabalho!

Em sua forma primeira o tripé fala, escrita e leitura compõem um sistema que se retroalimenta: quanto mais e melhor leio, melhor me expresso e mais facilmente serei capaz de transmitir o que penso a outros.
Com isso os horizontes se alargam e isto num cargo de liderança executiva é fundamental. Saber e fazer-se entender!

A comunicação aqui não é apenas a de um projeto. Pode estar na simplicidade de elaboração de um e-mail ou de uma minuta contratual. Um executivo precisa saber usar a língua vernácula de seu país e dar ao escrito inteligibilidade coerente. Tanto em sua forma (ortografia) quanto de seu conteúdo (ideia).

É essencial dizer que a comunicação é o cerne de tudo e que mais importante do que "como" seja que ela ocorra. Mas a comunicação exige como condição que de um lado haja um emitente e que de outro lado haja um receptor dessa mensagem, e que ambos consigam trocar, ou seja, usarem o mesmo código. Quando essa troca não ocorre houve falha nos objetivos.

A comunicação (veja, falo como leiga... um especialista faria isso melhor que eu) para ocorrer sem problemas não deve possuir "ruídos", e esse ruído pode ser gerado exatamente na forma como as palavras e ideias são colocadas e encadeadas. Sempre o objetivo principal é alcançar a harmonia. Tal como na música, é fundamental para contagiar, agradar e ser entendida por todos. Repare como pode ser agradável:


Escrever não é simplesmente aglutinar palavras e jogar ideias a esmo. É preciso que faça sentido lógico para que pessoas diferentes, e mesmo que não sejam de sua área específica, as compreendam. É preciso que as ideias estejam ordenadamente amarradas. Precisam fazer sentido. Isto fundamental!

A escrita citada aqui é um trabalho de respeito e esmero que temos que aprender a desenvolver em respeito ao outro. Talvez a grande dificuldade de muitos executivos é não ter essa "empatia" ao outro quando escreve. Parte-se sempre da ideia de que "irão entender!".

No caso aqui, a escrita executiva tem que ter objetividade e assertividade para fazer sentido em seu universo de produção.

Em geral, executivos não são dados a tantas sensibilidades, mas a boa escrita cabe em qualquer lugar.

Definitivamente não se delega a terceiros e pode ser aprendida e cultivada.

Daí que escrita executiva é coisa séria!


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