20 de jun. de 2015

Redes Sociais: a perpetuação de um modelo maçante e infantilizado

Escrito e lido por: Eliana Rezende 

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Music Player for Google Drive)


Em outras oportunidades já abordei as questões envolvendo o Facebook e os padrões de comportamentos dos seus usuários. 

Neste post concentro-me em uma análise das chamadas redes sociais, e até a 'profissional': LinkedIn.
Quando do seu surgimento, as redes apontavam com uma possibilidade inédita de interação, troca por compartilhamentos e possibilidades de interação em tempo real. Parecia, aos observadores, que encontrávamos um novo modelo, inovador e renovador, para relações e trocas sociais. A comunicação parecia romper fronteiras de tempo, espaço, classes sociais e culturas. Paradigmas seriam rompidos quase que na mesma proporção em que tecnologias fossem sendo criadas e disponibilizadas à usuários pelo mundo, através de gadgets variados.

Transcorridos, tempo e tecnologia, as projeções se mostraram diametralmente opostas. Hoje, o que vemos em larga escala é, apenas e tão somente, a variação de "mais do mesmo". As plataformas digitais repetem fórmulas, e apenas reforçam aquilo que diferentes profissionais de áreas sociais apontam: uma sociedade egoica, onde as redes funcionam apenas e tão somente como veículos potencializadores, com lentes de aumento em atitudes individuais. E  que vez por outra alcançam 'movimentos de manadas'. As pessoas reproduzem e amplificam aquilo que nem entendem o que seja.   
Ao invés de estreitamento e proximidade, as redes em geral, oferecem a solidão, o isolamento e ensimesmamento de indivíduos. 

Do ponto de vista de compartilhamentos, nota-se uma padronização infantilizante de postagens, em geral compostas por itens de simplificação de uma imagem e uma foto. Com o desenvolvimento e facilidade de criação de vídeos, ganham notoriedade os rasos e rápidos. O processo se repete de forma entendiante por plataformas ditas de mídias sociais, mas também alcançam redes consideradas profissionais. Um exemplo disso, foi quando o LinkedIn passou a permitir que fotos e vídeos pudessem ser anexados. A partir deste ponto a rede social virou um braço amigo e semelhante de redes como Facebook. A quantidade de insignificâncias aumentou e escondidos os logos de identificação da plataforma, não somos capazes de determinar em que rede estamos, tal a similaridade desinteressante compartilhada.

De outra sorte, mas igualmente repetindo modelos cansativos temos as ditas pílulas de motivação, autoestima ou autoconhecimento. Repetem-se, ad nauseam, pelas diferentes plataformas como forma de servir de "incentivo" ou expressar "pensamentos". Óbvio que estão longe de uma reflexão, e tornam-se apenas modismos desconfortáveis, repetidos exaustivamente por toda uma rede. É comum vermos a mesma pílula compartilhada "N" vezes até à exaustão. O fato merece destaque, pois revela um 'sedentarismo social' implícito nas repetições constantes de postagens alheias, em especial na ausência de busca de conteúdos inéditos: afinal, é sempre mais fácil e mais rápido copiar ou compartilhar o que já está ali pronto. The lowest hanging fruit (O fruto mais fácil a ser colhido). 

Mas ainda há aquilo que, de mais vil as redes tem produzido: a agressividade. Tal agressividade chega às raias de produzir discursos xenofóbicos, preconceituosos, racistas, e de muitas outras formas de ataque utilizando-se o anonimato em rede para esconder-se grosseira e covardemente daqueles a quem se dirige todo seu ódio destilado. 
Quando isso não ocorre, temos apenas a superficialidade.
Ninguém mais é capaz de ir além de três parágrafos, quer para escrever, quer para ler.
Daí o uso de postagens imagéticas para "facilitar" supostos conteúdos. E é neste terreno que a pasteurização apresenta-se como a mais aterradora em rede: os conteúdos tendem a ser rasos e simplistas. Posts proliferam-se como apenas exercícios de recorta e cola e em raras possibilidades encontramos uma escrita fluente, aprofundada e consistente. Aquela que é pensada intencionalmente antes de ser postada. Aquela que de fato é uma criação. 

A massiva mediocrização também é um elemento de repetição e constância em rede. 

Guardo para este ponto aquilo que considero o ápice do que chamo fórmulas maçantes, desinteressantes e sem criatividade: as listas. 

Odeio visceralmente as listas! 

E odeio a partir de duas constatações: será que quem escreve não consegue ser claro, didático e incisivo se não dispor numericamente o que quer falar? Ou será o leitor considerado tão incapaz que, se não for através de uma lista, se perderá no meio da leitura. 
DEPLORÁVEL.
É a única palavra que consigo encontrar para designar esta forma de escrita que vejo aos borbotões em inúmeros posts, escritos muitas vezes às pressas e, que copiam o que um dia foi uma grande sacada. Hoje é só mais uma forma de perder importância e valor de conteúdo. 


O que é seguro afirmar, é que as redes não se renovam exatamente porque seus utilizadores não desejam isso. Exprimem-se e buscam sempre a mesma forma de repetição de fórmulas, e mesmo quando uma nova rede é lançada, sua adesão dependerá em grande parte de sua capacidade de imitar e colar a anterior. Em última instância, são os usuários que tornam os ambientes estagnados, cansativos, repetitivos e extremamente distante daquilo que possa se chamar criativo, inovador ou agregador.

As redes apenas massificam e distribuem conteúdos pasteurizados. A multidão apenas repete a fórmula, sem nada questionar ou criar. E isso me preocupa, porque nunca antes tivemos um exército tão grande que apenas responde a estímulos, ou neste caso, a cliques. 

Como digo, não sei para onde vamos, mas sei que vamos muito mal!


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7 de jun. de 2015

KODAK e FACEBOOK: Aperte o botão e nós faremos o resto!

Escrito e lido por: Eliana Rezende 

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Music Player for Google Drive)


O slogan era simples.
Você clicava o botão e a KODAK  fazia o resto.
A simplificação motora de um aparato mecânico fornecia ao usuário a experiência de autorepresentação.
Se até então fotografar-se e imprimir uma imagem de si exigia idas à estúdios fotográficos e a figura de um profissional, com o surgimento das máquinas fotográficas vários intermediários eram retirados de cena.


Ajudando as pessoas a construírem uma imagem de si mesmas, a KODAK foi construindo uma imagem de si e das formas como o mundo podia ser representado. A partir da década de 1920, a KODAK passa a lançar uma ampla campanha de publicidade nas revistas ilustradas mostrando as vantagens da sua máquina portátil, além de oferecer sugestões de situações cotidianas em que se poderia utilizar a fotografia. Veja só:
"(...) Desde a infância até a edade madura a KODAK conserva uma chronica photographica, completa e fidegna, de todos os incidentes alegres da nossa vida. Tanto a criança, como o adulto, podem operar a KODAK com a maior facilidade e obter phographias á primeira prova (...)"  - Fon-Fon! 25/02/1922.
É a partir daí que a crônica fotográfica se amplia e incorpora a um modo de viver: o registro frequente e em quantidade de fragmentos da vida cotidiana.
Além de ser um importante item em momentos de lazer, as câmaras fotográficas, de acordo com seus modelos, apontavam um determinado requinte por parte de seus possuidores e seu segmento social. Assim, o acabamento final era sempre salientado pelos reclames, procurando reforçar seu uso pelos interessados em geral. O objeto reunia com isso um símbolo de status.


A inovação tecnológica apresentou às pessoas uma fórmula simples perseguida eras após eras para se fazer perpetuar e representar. Não é objetivo deste post, mas posso citar inúmeros exemplos de civilizações que buscavam esta autorepresentação como forma de se fazer lembrar e impor. Fenícios, Egípcios, Gregos, Romanos e mais recentemente escolas Renascentistas e Modernas que formaram inúmeros artistas e pintores. Haja visto trabalhos de pintores e retratistas anteriores ao período de invenção da fotografia que tinham aí seu oficio e meio de ganho. Era comum que tais artistas fossem contratados para fazer retratos de famílias nobres em suas respectivas sociedades.

No caso dos povos da antiguidade como egípcios e mesopotâmicos, sua representação pictórica era também uma necessidade narcisista de fazer-se perpetuar,  priorizando juventude e poder através de sua imagem e representação. Não muito distante deste ideário estão também pinturas rupestres com imagens de festas, guerras e rituais. Ou seja, autorepresentação e perpetuação integra anseios dos mais profundos em diferentes épocas e civilizações.

Em verdade a KODAK ofereceu o botão e todo o resto se fazia como mágica. Ao clicá-lo todo o sentido de perpetuação integrava-se a uma imagem que logo a seguir seria consumida e reproduzida com diferentes objetivos e propósitos. 

É interessante notarmos as publicidades de incentivos ao uso das câmaras e de que forma ritos e eventos sociais, públicos ou privados, podiam ser feitos. Tal simplicidade era apresentada pela figura feminina. Afinal, "até uma mulher poderia manejar uma"!


O que ninguém imaginaria era o quanto as pessoas iriam longe nos usos e abusos desta tecnologia, e o quanto se fariam fotografar. "Selfies" (neologismo que chega junto com o desenvolvimento de tecnologias digitais e redes sociais), proliferam à nossa volta nas mais diversas situações. Algumas bastante constrangedoras como as que ocorrem em funerais e tragédias. Da auto-representação passa-se imediatamente ao narcisismo exacerbado e mórbido, onde uma imagem tenta ser síntese de todo um conjunto de sentimentos, emoções, acontecimentos. Requintes e minúcias que, em muitos casos poderíamos passar sem! Não é preciso lembrar de "selfies" em funerais, pós sexo, ou até em situações de tragédias, mortes, acidentes e outras catástrofes.

Mais de um século depois temos de novo um botão com funções semelhantes dentro de uma plataforma tecnológica.

O "curtir" no FACEBOOK encerra em si a possibilidade de registrar um rastro de perfis, gostos e desgostos a partir de uma ferramenta tecnológica. Nunca foi tão fácil apertar um botão e deixar que outros façam o resto. A sanha da exibição e de mostrar-se continua, mas com outras características.
De fundo temos o principio mais elementar: facilidades para a exibição e instantâneo compartilhamento.


Como todo produto em rede, as máquinas fotográficas foram assumidas, primeiro, pelos mais abastados e somente depois alcançaram as camadas mais populares. Não foi diferente com as redes sociais. Sua aparente gratuidade envolve uma gama imensa de necessidades de consumo prévio (é preciso um computador, provedores de acessos e equipamentos digitais para fazer os registros fotográficos). Ou seja, foi preciso que um determinado segmento da sociedade pudesse começar a consumir tal tecnologia para ela se espalhar, mas ainda está longe de poder ser considerada democrática e gratuita. Mas como um rastilho de pólvora tem acendido o desejo de milhões para o consumo rápido de imagens de si, de outros, de lugares, coisas, objetos, eventos.

Eis o que une KODAK  e FACEBOOK com um hiato de pouco mais de 100 anos. Enfim, não é apenas o K no final!

FACEBOOK tal como a KODAK introduziu na vida social a pretensa necessidade de um intermediário tecnológico para preservar momentos e compartilhar relações entre aqueles que pretensamente se ama e se quer sempre perto. O mote justificador é o mesmo: aproximar via imagem aquilo ou aquele que está distante e muitas vezes até inacessível. 

Nos dois casos temos a semelhança de irem ao encontro de um anseio de perpetuação e exibição nos espaços sociais, facilitados por botões que simplificam, dão forma e... às vezes, até sentido ao que se quer mostrar.


O botão da KODAK e o curtir do FACEBOOK, encerram em si uma ação: auto-representação e exibição para consumo social.


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