19 de jul. de 2017

Espaços de liberdade e ócio se estreitaram

Por: Eliana Rezende

Uma metáfora interessante para a vida que temos e levamos.
De repente os muros que cercam nossas cidades e vidas estão cada vez mais altos numa busca frenética por segurança.
A vigilância permitida acaba sendo um consenso para a vida contemporânea e ninguém já se incomoda com câmaras em locais públicos, entradas de residência, prédios e locais de trabalho. É o que em outro post chamei de vigilância consentida.

Explora-se na Arquitetura o chamado conceito aberto, onde espaços integrados dão ao seu usuário a sensação de estar integrado a tudo e todos. Mas ao mesmo tempo os indivíduos vivem cada vez mais o que denominei de contradições em vidas modernas.

Em verdade, os muros aqui não são de proteção e segurança. Muito ao contrário! São muros de estreitamento, cerceamento de liberdade através da exposição continuada.


Mas numa situação até paradoxal e quase que numa exata proporção, nossos espaços de liberdade,  sonho e ócio se estreitaram. Cada vez mais nossos espaços de exercitar momentos de intimidade com nossos devaneios e liberdade com pensamentos, fantasias, sonhos se restringem.
A conexão em tempo integral torna todos conectados todo o tempo. E simplesmente desligar-se de tudo parece ser pecado mortal que tem como sentença final estar fora do mercado, não ser considerado responsável e até profissional. A intensificação de exigências para mantermo-nos ocupados  tornará em pouco tempo insustentável uma vida saudável e de satisfação.

Cada vez mais as pessoas deixam ter tempo e espaço para estar consigo mesmas. Descobrir não a solidão, mas o valor da solitude (estar acompanhado de si) e o que é melhor: achar que está em boa companhia.

Até mesmo espaços onde ficávamos absolutamente a sós com nossas necessidades, como era o caso dos sanitários, são hoje espaços de sons e teclas, quando alguns mais afoitos até WhatsApp usam!
Outros vão ainda mias longe: nem mesmo quando vão ao banho conseguem se desconectar de sua coleira eletrônica.
Invasores e invadidos todo o tempo. Ou estamos de um lado ou estamos de outro....


Mas este estreitamento invasivo de espaço não acontece apenas nos chamados espaços institucionais/corporativos quando as coleiras digitais dão o tom e a direção de onde devemos ir, com quem e a que ritmo.

O estreitamento a que me refiro pode ser ainda muito mais avassalador e invasivo: atinge até mesmo os que ainda nem chegaram ao mercado de trabalho.

Perceba como nossas crianças estão cada vez mais reféns de atividades, horários, "compromissos". Em muitos casos, cumprem funções que pais e responsáveis acreditam que seja útil para a sua vida profissional futura. São aulas de inglês, espanhol, informática, e até as consideradas práticas esportivas visam "proteção", como é o caso de capoeira, karatê, lutas marciais e afins. As atividades recreativas cumprem horários que, em geral, os pais precisam para mantê-los ocupados até retornarem do trabalho. Compulsivamente, seus responsáveis os atiram de uma à outra atividade, numa roda viva que leva muitas crianças a estarem sempre estressadas, desmotivas, resmungonas.
E com razão!
Para estes casos, a pergunta que não quer calar é: e o tempo de devanear, brincar, olhar nuvens no céu e simplesmente imaginar? Não seria melhor que simplesmente fossem-lhes dado tempo para brincar, fazer de conta? Momentos daqueles que castelos se fazem com nuvens e onde a mente simplesmente passeia?

Inúmeras pesquisas dão conta de que a criança ao brincar, em verdade está exercitando suas relações, aprendendo a tecer e fortalecer laços, encontrar soluções e aumentar sua criatividade e flexibilidade, aprendendo desde cedo a lidar com negociações, frustrações e limites (seus e dos outros).

Como uma geração crescida desta forma poderá ser depois cobrada por criatividade?! Respeito aos espaços alheios?
Não é um contrassenso?

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4 comentários:

  1. Olá Fadinha do Dragão, faz tempo que não te leio. O fiz agora. Um refresco e um bálsamo para uma mente sofrida e mordida, como tantas. Parabéns ! Não para não; nunca. Obrigado.

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    1. Ol@...
      Não páro não!
      A mente e a alma não deixam que a inquietude do espirito pare. Apenas é preciso tomar cuidado para não ficar repetindo sempre as mesmas coisas!
      Abs e muuuito grat@ pela leitura!
      ;)

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  2. Oi Eliana você consegue abrir a cabeça de todos!. Obrigada!

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  3. Com certeza vou usar suas palavras, mas não vou esquecer seu endereço!Abs

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