Sobre mim...

Historiadora por vocação, formação e paixão...



Eliana Rezende

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Memorial
Parte I

A História entrou pela minha vida através da magia da leitura. 
A curiosidade infantil acrescida de uma imaginação feroz me fazia boa ouvinte de histórias lidas e contadas pela minha mãe. 
De origem protestante, as histórias vinham sempre dos escritos sagrados e revelavam um mundo feito de deuses, heróis, guerras e forças da natureza! O mundo surgia através das páginas escritas como sendo da vontade de um Criador que ao seu sinal faria surgir a luz, as águas e todos os elementos e que dispunha de um povo que vivia uma saga pelo deserto, com alimento que caia do céu, ou do mar que se dividia em dois para que toda uma nação fugisse de seus opressores. 


Dando os primeiros passos

A História era assim épica, poderosa com interferências do Poder Divino. 
O plano terrestre podia ser explicado a partir de uma hierarquia celeste e assim dois eram os mundos: o sagrado e o profano.
Alfabetizada, os mundos então lidos e conhecidos através dos olhos de minha mãe, ganham agora a possibilidade de ser lidos por mim.
A escrita e a leitura chegam aos meus olhos e o mundo começa a se abrir.
No ano de 1988 a paixão pela PUC/SP surgia como um novo horizonte de descobertas. Diferentes mestres, vários amigos e muitos autores me levavam aos braços da História e me descortinavam um mundo não feito de heróis épicos comandados ou influenciados por divindades, mas movimentos sociais realizados por indivíduos comuns que buscavam sentido para a sua existência.
A História começava a fazer sentido enquanto movimento. Pouco a pouco o valor da construção do documento oral, lado a lado com depoente, enriquecia e fazia crescer o anseio por mais descobertas, por mais caminhos que levassem aos fios da tessitura de tantos destinos cruzados ao redor de causas comuns. 
Foi deste universo que surge a sensibilidade e o respeito às memórias, ouvidas sempre em atentas e longas conversas com depoentes disponíveis e prontos a registrar parte de sua história no grande macro-cosmo da existência dos movimentos sociais.
Junto a estas memórias, muitos outros elementos chegavam e ajudavam a fazer ruído aos sons do passado: fotos, objetos pessoais, anotações, recortes de jornais e uma infinidade de “retalhos de existência” que chegavam pelas mãos dos depoentes compondo com as prateleiras de suas lembranças grandes arquivos vivos de existências passadas.
Necessitavam ser cuidados, compreendidos e de certa forma garantidos aos olhos de outros que deles quisessem obter mais detalhes e outras pistas sobre os caminhos destas existências. E foi daí provavelmente que se iniciou meu caminho pelas prateleiras não apenas metafóricas da memória, mas pelas físicas e empoeiradas prateleiras de diferentes arquivos.
Os documentos passariam a ser olhados com o olhar técnico e especialista buscando responder às suas necessidades de preservação, conservação e disponibilização de informação.
Não fariam sentido apenas armazenados em uma sala escura em caixas de papelão!
Do interior de álbuns de família surgiam vidas, pequenas notas de existência perpetuadas pela imagem esmaecida de um tom sépia fixado em um suporte de papel. A paixão pela fotografia foi brotando paulatinamente e descobrir o universo de sua feitura foi mergulhar num mundo de novo mágico e alquímico. A luz entrava novamente na minha vida, agora não pelas mãos de um Criador e uma palavra, mas pela química de diferentes líquidos armazenados em pequenos recipientes acolhidos por um quarto escuro. 


Castelo dos Mouros - Sintra - Portugal

A busca por mais especialização, levou-me com o auxílio de uma Bolsa de Doutoramento da FAPESP para a realização de um Estágio em Conservação e Restauração de Coleções de Fotografias no Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa sob a supervisão do Prof. Luis Pavão.
O amor às duas cidades levou-me por largo tempo a viver dividida, cindida entre dois mundos à procura de pontos de contato. O encontro com Lisboa revelava uma cidade de faces estreitas e coloridas – o laranja, o ocre, o pêssego, o amarelo e toda a variação das cores do arco-íris – compunham um belo quadro impressionista das existências contidas no interior de suas fachadas.


Casario de Sintra - Portugal

Em contrapartida havia na minha existência as marcas da cidade de São Paulo. Uma cidade de ritmos fortes, que do seu concreto aparente revela uma cidade de muitos rostos e várias faces.


Sampa

O ínterim desta cisão entre dois mundos obrigou-me a morar algum tempo fora do Brasil, mais próxima do mar e mais perto do Tejo e de Lisboa. O aprendizado profissional foi profícuo e no decorrer deste tempo o ofício de arquivista/historiadora continuou a ser desempenhado.

Parte II 

A tese intitulada: “Imagens na cidade clichês em foco... São Paulo e Lisboa (1900-1928)”, defendida numa tarde de agosto de 2002 procurou analisar três coleções de fotografias consideradas como conjuntos documentais que estavam interseccionadas por temáticas que se interpenetravam, buscava não ser somatória de imagens, mas sim um discurso sobre a cidade.
O aprendizado profissional foi profícuo e no decorrer deste tempo o ofício de arquivista continuou a ser desempenhado. A iniciativa privada ainda era um nicho interessante e desta feita aceitava a coordenação do arquivo financeiro e fiscal de uma multinacional inglesa na área de tele-comunicações: era a Vodafone Lisboa. 
No transcurso deste tempo a experiência acumulada de anos anteriores aliada a recentes tecnologias aplicadas à disponibilização de informação para diferentes setores e usuários geraram outras inquietações e possibilitaram-me entrever os possíveis caminhos de aproveitamento da arquivística, história e o cuidado com a documentação, fosse ela qual fosse, no interior de uma multinacional. Era gratificante saber que os caminhos da história podiam romper barreiras transcontinentais e que o aprendizado natal era-me muito útil. As ferramentas lapidadas no decurso dos anos valiam para cavar e encontrar outros tesouros!


Castelo dos Mouros - Sintra - Portugal

O ano de 2002 chega com a possibilidade de ministrar cursos em nível de extensão cultural na área de Gestão Documental, onde a organização de documentação em diferentes suportes é ponto fulcral e as formas de disponibilização da informação uma preocupação constante. Importante neste contexto é garantir que a comunicação se estabeleça. Era também o ano em que o caminho de consultoria surgia como forma de comunicação e troca. Por meio da Gestão Documental as experiências acumuladas no decurso de toda minha trajetória começavam a fazer sentido e poderiam ser reunidas de forma mais elaborada e acabada, tendo como fim último mostrar de que forma o acesso à informação contida em documentos de diferentes suportes poderia produzir possibilidades de pesquisa e produção de conhecimento científico.
O ano de 2003 chega, e com ele mais desafios. Este é o ano do meu ingresso no Ensino Superior e na descoberta da partilha cotidiana do conhecimento com jovens da área metropolitana da Grande São Paulo. A cidade é Osasco e a disciplina administrada é a Metodologia Científica.
O Projeto de consultoria para Informatização do Acervo CEOM/UNOCHAPECÓ impõe-se como mais uma empreitada: disponibilizar por meio da informatização todo um acervo documentos de diferentes procedências e suportes e que incluíam: documentos textuais, iconográficos, fotográficos, tridimensionais, museológicos, arqueológicos referentes à processos colonizatórios e de culturas indígenas de toda a região.


Neste caminho de inquietações, feito de trilhas e trilhos, cidades e paisagens Curitiba chega com mais um grande empreitada e aponta que é ora de alinhavar todas as pontas da grande tessitura de todos os caminhos percorridos até o momento. É ainda o ano de 2006 e a formação de profissionais para lidar com documentos em diferentes suportes leva-me ao encontro de idealizar e implantar a Gestão Documental no Município de Curitiba. Desafio vindo de forma lisonjeira: a contratação dá-se por Notória Especialização e coloca na honraria o compromisso e a responsabilidade de através da organização documental garantir a preservação do patrimônio documental de todo um Município e com ele toda a sua História.
Cada Órgão possui sua gama própria de produção documental e consigo traz desafios de preservação, conservação, disponibilização, uso, acesso e sigilo. Como garantir que a memória não se extinga? Como tornar a produção documental fonte de pesquisa, conhecimento e inovação? Este é o desafio. Este é o compromisso!


Em Dia de Criança: bora passear?

Curitiba oferece os meios para que as ferramentas construídas e lapidadas no tempo, talhadas para dar acesso, organizar e preservar possam ser experimentadas, testadas e utilizadas como meio de exercício de cidadania: a vocação encontra seu destino e responde ao social.
Procuro as conexões entre minhas memórias e a preservação daquele que é não apenas patrimônio pessoal construído e edificado a partir das minhas experiências pessoais, mas são portas de acesso a caminhos mais gerais e que repercutem na preservação e conservação de patrimônios alheios e conexões mais amplas.
O horizonte está logo ali.


Castelo em Óbidos - Portugal