Empáticos e gentis: para quê?

Por: Eliana Rezende

Há tempos quero falar sobre estas duas características, cada vez mais raras e quase sempre tão confundidas. A dificuldade se dá exatamente porque no mundo corporativo elas parecem ceder vez a outras palavras que ultimamente estão virando moda, como por exemplo: inovador, criativo, pró-ativo, entre outras.

De outro lado, empatia e gentileza são características que não estão no rol de termos monetizáveis. E ainda mais: não nascem como virtude e nem se adquirem ao se frequentar uma escola. Não estão à venda, nem são itens de consumo rápido, obtido por entregas via cartão de crédito.

Partindo de tanta dificuldade, resolvi iniciar minha busca pelos dicionários. As interpretações são muitas e várias, suas aplicações alcançam um número ainda maior. Mas das definições que vi escolhi estas:

"Gentileza é a qualidade do que gentil, do que é amável. Gentileza é uma amabilidade, uma delicadeza praticada por algumas pessoas.
A gentileza é uma forma de atenção, de cuidados, que torna os relacionamentos mais humanos, com menos rispidez. Quem pratica a gentileza não tem má vontade, não é indiferente e sim é cuidadosa, distinta e delicada.
As gentilezas devem ser praticadas com lhaneza, ou seja, com sinceridade e simplicidade, pois melhoram o convívio entre as pessoas."

Para empatia o significado é assim descrito:
" Empatia significa a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela. Consiste em tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar de forma objetiva e racional o que sente outro indivíduo.
A empatia leva as pessoas a ajudarem umas às outras. Está intimamente ligada ao altruísmo - amor e interesse pelo próximo - e à capacidade de ajudar. Quando um indivíduo consegue sentir a dor ou o sofrimento do outro ao se colocar no seu lugar, desperta a vontade de ajudar e de agir seguindo princípios morais.
A capacidade de se colocar no lugar do outro, que se desenvolve através da empatia, ajuda a compreender melhor o comportamento em determinadas circunstâncias e a forma como o outro toma as decisões.
Ser empático é ter afinidades e se identificar com outra pessoa. É saber ouvir os outros, compreender os seus problemas e emoções. Quando alguém diz “houve uma empatia imediata entre nós”, isso significa que houve um grande envolvimento, uma identificação imediata. O contato com a outra pessoa gerou prazer, alegria e satisfação. Houve compatibilidade. Nesse contexto, a empatia pode ser considerada o oposto de antipatia.
Com origem no termo em grego empatheia, que significava "paixão", a empatia pressupõe uma comunicação afetiva com outra pessoa e é um dos fundamentos da identificação e compreensão psicológica de outros indivíduos.
A empatia é diferente da simpatia, porque a simpatia pode é maioritariamente uma resposta intelectual, enquanto a empatia é uma fusão emotiva. Enquanto a simpatia indica uma vontade de estar na presença de outra pessoa e de agradá-la, a empatia faz brotar uma vontade de compreender e conhecer outra pessoa.
Na psicanálise, por exemplo, a empatia significa a capacidade de um terapeuta de se identificar com o seu paciente, havendo uma conexão afetiva e intuitiva."

Buscar no dicionário foi a forma de procurar mostrar que, tanto uma quanto a outra, não tem nada a ver com educação ou quaisquer modalidades atribuídas ao espírito cortez e romântico que se espera de casais apaixonados. Gentileza, não se pratica dando bom dia, pedindo com licença, por favor, obrigado. Muito menos é enviar flores com cartão, abrir a porta do carro, segurar a porta do elevador.
Isso tudo é desejável, mas está apenas na categoria de boa educação.

Gentileza e empatia definitivamente são outra coisa. Elas envolvem uma real percepção de quem seja o outro. Enxergá-los em sua plenitude e verdade, e respeitá-los apesar de, ou por isso. É ter pelo outro a mesma consideração e respeito que deve ter por si mesmo. Antes e acima de tudo, ter a capacidade infinita de simplesmente saber se colocar no lugar do outro em certas circunstâncias. Um exemplo disto pode ser lido no post "O trabalhador Invisível", que escrevi e cujo link está aqui:

Saber ter palavras que em vez de ferir como lâminas, sejam antes de tudo um bálsamo que alivia e até cura. Significa ser bom ouvinte. Atento e cuidadoso, que saiba colocar cada palavra no seu devido lugar.
Ser gentil é saber andar sem armas. É saber conciliar todos em torno do que realmente interessa. Mesmo quando os ânimos estão em uma panela de pressão.

Gentileza e empatia são modos de ser, estar, agir, enxergar o mundo, a vida e as pessoas.


Daí dizer que gentileza e empatia vão muito além de boa educação ou cortesia aplicada às etiquetas e convívios sociais. Elas não constam nos currículos escolares exatamente porque tem a ver com sistemas de valores pessoais e éticos, que se exprimem num desejo sincero de contribuir para que o mundo e as relações à sua volta sejam mais humanas e tragam mais contentamento.

Quem as exerce é por natureza uma pessoa que pratica a justiça. Mas não apenas a que lhe beneficia, mas especialmente a que toma em conta os outros.

Gentileza e empatia envolvem não apenas aquele vestígio impessoal do tipico cumprimento "e aí, como vai?" e já virando as costas antes que a resposta seja devolvida. Significa o interesse de um olhar frontal, sincero com ouvidos atentos. É doar seu tempo.

Elas têm seu espaço em todas as circunstâncias de vida, sejam pessoais, profissionais, familiares ou digitais. Isso porque todos somos, ou deveríamos ser, apenas um. Praticadas no trabalho ou com pessoas que nos veem alguns minutos por dia são muito mais fáceis. Mas, e com aqueles que dividimos o teto, as paredes, a vida?

A gentileza e empatia estão, sem dúvida, ligadas ao autoconhecimento que cada um precisa ter de si e do mundo que o cerca. Sem ele, no máximo a pessoa será apenas e tão somente educada.

E você? Como tem exercitado a gentileza e empatia na sua vida?
Fez isso hoje? Fez ontem?

Seguirá fazendo?

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Comentários

  1. Lindo texto, Eliana! Gostei muito. Que sejamos todos mais empáticos e gentis. Beijos e boa semana!

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    1. Ol@ Paula...
      Muito obrigada!
      Ás vezes basta tão pouco não é mesmo? Basta só um pouco de atenção e sensibilidade.
      Abs e volte sempre!

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  2. Olá, Eliana! Muito bom começar a semana com gentileza e empatia! Gostei de você ter enfatizado que não são valores monetizáveis, como tantos outros que acabam sendo distorcidos e esvaziados de significado. Também tenho visto o emprego do termo empatia no mundo corporativo, como "competência comportamental" para crescer na carreira... Fazer o quê? Na dimensão mais profunda desses valores está a gratuidade, não há expectativa de obter algo do outro. Ótima semana! :-) _/\_

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    1. Ol@ Sandra...
      Muito grata.
      Não acho que seja dificil aplicar a empatia em nossas vidas.
      Em geral, as pessoas esquecem da regra mais simples e básica, que é de fazer ao outros aquilo que deseja para si. Fazendo isso tudo fica tão mais fácil, não é?
      Tbm considero que o "se não" está exatamente na forma como as pessoas não entendem o seu maior valor, que é a gratuidade.
      Abs e fico muito feliz de que tenha gostado!

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  3. Seu post me lembra um livro que adoro: "Pequeno Tratado das Grandes Virtudes", de André Comte-Sponville.

    Gostei especialmente do seguinte parágrafo:

    "Daí dizer que gentileza e empatia vão muito além de boa educação ou cortesia aplicada às etiquetas e convívios sociais. Elas não constam nos currículos escolares exatamente porque tem a ver com sistemas de valores pessoais e éticos, que se exprimem num desejo sincero de contribuir para que o mundo e as relações à sua volta sejam mais humanas e tragam mais contentamento."

    Relações mais humanas. Como andamos carentes disto, não? Nós humanos andamos tão robotizados, não temos olhado muito para o lado, não temos percebido o outro. Perceber, no sentido profundo da palavra: sentir o outro, sentir o que há nos olhos e nos gestos do outro. No entanto, queremos tanto ser notados, percebidos. Não tem como dar a mão ao outro sem trocar calor. O problema é que os humanos andam esquecidos disto: estender a mão, tocar e simplesmente sentir.

    Amei suas ideias, ao poucos vou lendo seus posts passados e comentando, pois valem a pena. Abraços!

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    1. Ol@ Isabelle...
      Que bom que esteja gostando das ideias que lanço para que vcs refitam comigo.
      Venha sim muitas vezes: será sempre muito bem vind@!
      Abs

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  4. Que texto maravilhoso Eliana! São atitudes que valorizo, busco desenvolvê-las, mas muitas vezes são ignoradas.

    Parabéns!

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    1. Ol@ Patrícia...
      Ás vezes isso acontece.
      Mas o que posso dizer é que assim como praticá-las deve ser ato voluntário, tbm deve ser sem esperar nada em troca.
      Saber que faz e sentir-se bem é o que de fato importa.
      Em geral, o reconhecimento vem de outro e em outra circunstância. Observe e verá!
      Abs

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  5. Oi Eliana, mas esta moça sempre chega com uns textos lindos. Gostei muito do que li, e o que mais me tocou - motivo de uma preocupação cada vez maior - foi "...as relações à sua volta sejam mais humanas..."
    Não ando entendendo a maioria das pessoas ultimamente...???
    Amargas, grosseiras, brutas, egoístas, com requintes de desumanidade, blindadas para as "relações", fechadas em seu mundinho, em seu universozinho.
    Ruas feias e egoístas, transportes feios e egoístas, nas calçadas, nos cruzamentos, diante de portas, de obstáculos, de ofertas, de procuras, de encontros, de esbarrões.
    Olha, eu saio de perto e aprecio triste, desolado, aguardando pacientemennnnnnnnnnnte o momento mais apropriado (?) para mim, para a minha vez diante do agente ou servidor.
    E quantas vezes, apesar de ter sido real ou virtualmente agredido eu peço perdão e me afasto da cena para que estas pessoas possam proceder da melhor forma (para elas).
    Empatia ? Creio que apenas no âmbito familiar e em algumas relações comerciais ou de trabalho.
    Gentileza ? Hummm, esse artigo anda tão raro ultimamente.
    A nítida sensação que tenho é de que as pessoas devem achar, em sua grande maioria, que estão sendo filmadas 24 horas por dia e julgadas sob a ótica da "esperteza" ou de uma pseudo agilidade e responsividade.
    Pois disparam, partem na frente, entram na frente, saem na frente, cruzam na frente, pegam na frente, tomam a frente, servem-se na frente.
    E, nestas horas, não há quem as “en....frente”
    Caso contrário, o que hão de pensar delas ? Que foram ultrapassadas, que tiveram que ceder a vez, que não foram as primeiras, que perderam a “corrida”...
    Que bobagem, que coisa pequena.
    E o filme verdadeiro que nós, gentis, educados, e cordiais coadjuvantes assistimos é muito feio, muito triste, decepcionante.
    “Life is too short to be little” Benjamin Disraeli
    Abraços.
    Rui Natal

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    1. Ol@ Rui...
      Agora gentil foi vc!
      Rs,rs, rs,rs,rs,
      Escrevi pq vejo que são duas qualidades difíceis exatamente por estarem absolutamente relacionados ao autoconhecimento. Como procurei destacar, são características que não se aprendem num educação formal. é mesmo algo a ser desenvolvido pessoalmente
      Infelizmente alguns termos ganham uma popularidade esvaziada de sentido. Algo parecido ocorre com o termo resiliência. Mas acho que o importante é reforçar que ambas nada tem que ver com boa educação. Vão muito além.
      Abs e volte sempre meu amigo!

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  6. Excelente texto Eliana. São raros os textos que encontramos em blogs, sobretudo em redes sociais, que fazem de nossos olhos janelas para o mundo. Geralmente sinto falta dos livros que nos fazem refletir mas lendo seus textos é como se estivesse a devagar em seus pensamentos e em seu mundo. Ah, me fez tambem repensar o facebook, pois dele fizeram um album, um divã e uma agenda pública. Acho até que aderiram a lei de transparência dos nossos governos.

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    1. Ol@ Helder...
      Muito grata de verdade por tuas palavras!
      São de fato incentivo para que eu continue a escrever e trocar.
      Quero de fato que meu blog não seja algo descartável. Quero que as pessoas o tenham como uma referência e que sempre possam voltar para ler, reler e debater.
      Me esforço muito para que os conteúdos que abordo sejam sólidos e sempre calcados na minha experiência de vida e profissional.
      E falando em Facebook: tenho um post que vai ser muito bom falando dele. Aguarde, pq em breve lanço, ok?
      Abs e muito obrigad@

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  7. Meu caso é bem estranho. Convivi com uma pessoa que me impressionava muito, até sonhava com ela, com seus olhos que apenas se fixavam nos meus para dar uma ordem ou afirmar que fiz algo errado. Meus colegas de trabalho começaram a cobrar de mim uma atitude agressiva, dizendo que o assédio moral que ela cometia era inaceitável. Eu procurei enfrentá-la uma única vez de modo cortês, mostrando que ela tinha sido deseducada. Para minha surpresa ela entendeu que a deseducada era eu, aceitou minhas desculpas e disse ter ficado muito constrangida com minha rispidez. Nunca mais tentei enfrentá-la, não tentaria mesmo que me pedissem, mesmo que seu assédio piorasse. Naquele dia percebi coisas que não percebia antes. Alguém de brincadeira diria que percebi que ela não tinha "simancol", mas o que vi foi outra coisa. Eu agora trabalho em outro lugar, mas até hoje de vez em quando eu penso nela, e desejo que, algum dia, ela consiga ser feliz.

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