8 de ago. de 2018

O Futebol como Metáfora (De Copa em Copa)

Por: Eliana Rezende

Este post começou a ser escrito em 2010.
A cada Copa que se sucedia tentava não ser imediatista, e como historiadora que sou dei tempo ao tempo. Longe das paixões e decepções de momento fui tecendo um bordado de impressões, e os armazenando em gavetas de existências, típicas e caras dos que escrevem sem pressa, como citei no meu post "Palavras Vincadas". 
Como retalhos numa colcha de patchwork as impressões foram se sobrepondo e o resultado deixo para apreciação coletiva, como coletivo é o jogo e todas as discussões decorrentes.

De cada derrota, o que sempre fica, é a de que o futebol é mesmo uma boa metáfora para nossas existências, sejam elas pessoais, profissionais, acadêmicas ou outras quaisquer.



2010: 
Acho que são horas de contabilizar...
Não foi um Mundial que deixou muitas saudades.
Alguns jogos realmente deram-me o prazer da contemplação e de enxergar, nos dribles, metáforas da existência. De enxergar nas ações e atuações de homens e seleções muito do humano: quase sempre carregado de emoções e exitações, lutas com vitórias, lutas em meio à derrotas e até vitória em meio a uma derrota. Ganhar e perder pode ser apenas um ponto de vista... um detalhe diante de todo um contexto. E os jogos são antes de placares feitos de contextos!     
Cri muito na força e juventude alemã... mas foram apenas uma grande promessa que não se cumpriu: tinham tantas possibilidades! Tantos meios... e se deixaram levar, quem sabe pela própria imaturidade dos jovens, não sei...

Mas guardarei sempre a luta em pé até o final do Paraguai contra a própria Espanha e os lindos momentos de força vinda das entranhas do Uruguai. De fato orgulhei-me muito de ver que também se perde com honra e dignidade. Merecidamente o melhor jogador da Copa vem do Uruguai... Para mim dos melhores jogos da Copa, nem tanto pela qualidade técnica, mas pela luta foi Gana vs Uruguai, Uruguai vs Alemanha.

A perplexidade diante de Alemanha vs Argentina (creia você ou não, torci de coração pela Argentina e muitos, muitos brasileiros também!).
Não posso deixar de falar do personagem Maradona... Impressionou-me, e ao final já torcia por ele! Foi comedido quando precisava, incentivador e melhor que tudo: teve tanta dignidade ao perder! Bravo! Bravíssimo! Cumprimento ao vencedor e beijos em cada um de seus meninos. Quanta diferença do Dunga. Erraram o nome do anão: deveria chamar-se Zangado. Uma vergonha nacional! Pra não falar do futebol pequeno e medíocre que apresentamos. 
Vejamos o que nos reserva 2014...




Das metáforas o que fica pra mim é que o quê vale mesmo não é ganhar ou perder: é lutar! E se tiver que cair que seja de pé e não envergonhado caído e consumido pela impotência diante de um jogo que não se sabe jogar... ou ainda pior: desistir de lutar e deixar que o jogo do outro nos consuma, anule ou sufoque. Mesmo os melhores, não são técnicos ou geniais todo o tempo. Às vezes se cansam ou fraquejam. Mas sobram ainda as possibilidade táticas e, se usadas de forma adequada, podem trazer os benefícios essenciais à sensação de ter feito algo em prol de todos. É preciso coragem e elegância para lutar até o fim e sair de cabeça erguida é o que importa!
A vida às vezes é assim: não conseguimos ser geniais todo o tempo, fraquejamos e falhamos muito e muitas vezes, mas se soubermos como nos colocarmos ante às adversidades de forma tática e adequada podemos reverter resultados adversos. 

2014: O que dizer desta Copa para o Brasil?

Sem dúvida, estará na memória de toda a nação nosso grande fiasco de 7 X 1.
Perdemos para nós mesmos!
Afinal, a ausência de equilíbrio e a permissão para que o emocional suplantasse as capacidades de realização são  causa de muitas derrotas, e em especial as derrocadas do Brasil.
A superioridade técnica, tradição, experiência e força física caíram por terra diante da ausência de inteligência emocional. Ela de fato destrói não apenas um homem, mas pode levar à rebote um time inteiro!


Para dar à volta por cima diante à adversidade é preciso ter a cabeça no lugar... não se desorganizar e permitir que a mente suplante as competências. Se a ausência de inteligência emocional encontra espaço para se instalar todo investimento é fadado ao fracasso e o desapontamento, a tristeza e impotência diante de um fato materializam-se como derrota. Passado o ponto onde se poderia ter uma capacidade de resposta o que resta é apenas o lamento e as justificativas incabíveis... uma sensação de "e se"...



2018: De novo um mundial que não aconteceu para os brasileiros...
As lições precedentes nada acrescentaram e nos vimos repetindo nos mesmos erros e concepções.
O futebol há tempos se descolou do que seja a Identidade nacional.
O Mercado apropriou-se do que deveria ser a nossa cultura de pés com ginga e cria simulacros de craques que embevecidos pela imagem que a mídia lhes conta, acreditam ter méritos especiais e esquecessem-se de que no futebol é preciso a arte de aliar pés, mentes e corpos: não há jogo de um só!
Pela primeira vez em décadas não assisti a um jogo sequer.

As crônicas que escrevia após cada jogo cessaram. Silenciosas estão como todos os meus sentimentos em relação aos jogos que são apenas espetáculos midiáticos. Jogos, jogadores, torcidas são apenas um amálgama "vendidos" como marketing. Tudo tão plastificado, igual... monótono...

O que senti, todo o tempo, foi um tédio horroroso por uma repetição medíocre de atuações, coberturas jornalísticas, comportamentos... em campo, extracampo...
Quem sabe um dia volte a gostar de ver os jogos. O atual momento para mim é apenas de quietude...
Só consigo pensar o quanto nosso futebol saiu das ruas e a identidade de seus jogadores com nossa cultura.
Os tempos hoje são outros e os jogadores simplesmente tornaram-se apenas produto de consumo. Recebem fábulas para nada fazer e mascateiam artigos de luxo: de giletes de barbear a carros, iates, jóias... Uma parafernália que nada tem que ver com campinhos de várzeas, onde meninos pobres jogam com suas primeiras bolas de meia. Muitos se deslumbram e perdem o sentido do que seja seu ofício e como este se relaciona com a cultura de um povo.

O futebol, até por ter se transformado em um produto de exportação, nivelou-se de tal forma que hoje qualquer país do mundo consegue obter resultados em uma competição internacional. Além de produzir atletas competitivos e muito bem remunerados. É certo que representam a ínfima parte do que seja o esporte como um todo. Mas o capitalismo aqui avançou seus tentá-los e produziu cifras. Algumas absolutamente inalcançáveis pelos reles mortais.  

É talvez toda esta homogenização globalizante que me traz uma pitada de tédio, de mais do mesmo. Não sei... 

Tempos tristes estes de globalização, redes sociais e consumo exacerbado.


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