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Mostrando postagens com o rótulo Sociedade

Leve sua alma para passear: dê-se tempo!

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Por: Eliana Rezende O tempo é sempre a grande preocupação de tudo e de todos. Sempre temos a sensação de que nos escapa por entre os dedos, e por mais que aparentemente vivamos, menos nos sobra dele. O tempo, logo se constata, não pode ser simplesmente medido por ponteiros e horas que insistem em correr através dos dias e anos em que nossa vida parece fatiada, retalhada, esmiuçada. Como dar aos nossos dias tempo? Como fazer com que, de tantos minutos infinitos, tenhamos de fato vida vivida e não tempo perdido, consumido, desperdiçado? Fico aqui pensando que o melhor que podemos fazer, aos nossos corridos dias, é dar tempo e vida às nossas existências levando nossa alma para passear. Mas como se passeia com a alma? Como fazer isso se muitas vezes o corpo está aprisionado em congestionamentos, transportes, baias de trabalho, ou num sem número de compromissos?! Dar descanso e passeio a alma pode significar destinar-nos tempo para coisas simples que dão a mente a possibilid

Quando a ficção vem pra rua...

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Por: Eliana Rezende É assim mesmo que nos sentimos quando lutamos contra o fascismo, o obscurantismo? Perdoem-me todos, mas nunca havia lutado contra um fascista de verdade. Em geral, achava que habitavam as ficções e os livros de história. Considerava que sua periculosidade era componente apenas de minha imaginação. Posteriormente os conheci através de relatos de depoimentos colhidos na área de História Oral sobre os movimentos sociais ligados à Igreja Católica e que resistiam aos anos de chumbo no Brasil (o trabalho desenvolvido possui um acervo riquíssimo que pode ser consultado na CEDIC/PUC-SP). As vozes ali ganhavam tons, entonação, lágrimas e sofrimento. Foram se desvendando para mim e fui descobrindo que a vida real os trazia em toda a sua truculência e perversidade contra os diferentes. Eram perseguidos, presos, violados e violentados de todas as formas e maneiras, sob acusações vis e mentirosas. O seu principal crime? Não concordar com a Ditadura e a perda de direitos

O Futebol como Metáfora (De Copa em Copa)

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Por: Eliana Rezende Este post começou a ser escrito em 2010. A cada Copa que se sucedia tentava não ser imediatista, e como historiadora que sou dei tempo ao tempo. Longe das paixões e decepções de momento fui tecendo um bordado de impressões, e os armazenando em gavetas de existências, típicas e caras dos que escrevem sem pressa, como citei no meu post " Palavras Vincadas ".  Como retalhos numa colcha de patchwork as impressões foram se sobrepondo e o resultado deixo para apreciação coletiva, como coletivo é o jogo e todas as discussões decorrentes. De cada derrota, o que sempre fica, é a de que o futebol é mesmo uma boa metáfora para nossas existências, sejam elas pessoais, profissionais, acadêmicas ou outras quaisquer. 2010:   Acho que são horas de contabilizar... Não foi um Mundial que deixou muitas saudades. Alguns jogos realmente deram-me o prazer da contemplação e de enxergar, nos dribles, metáforas da existência. De enxergar nas ações e atuações de h

Sampa: a Velha Senhora...

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Por: Eliana Rezende Praça Carlos Gomes - SP   Sampa agoniza... Sinto-a como uma velha senhora que está morrendo. E morre, não em seu momento de glória e vigor. Deixa a cena de forma triste... é um corpo obeso que se movimenta com dificuldade: excedeu em muito suas capacidades de acomodar seus volumes imensos. Suas artérias estão obstruídos e doentes. Não lhe faltam pontos de congestionamentos, deterioração, cicatrizes... Seu pulmão falha, e quase não respira. Falta-lhe oxigenação. O cinza toma conta do ar que a alimenta.  Seu coração é o mesmo (um centro doente e volumoso) que já não acomoda e nem irriga suficientemente suas extremidades. Muitas partes sofrem a gangrena da pobreza extremada, da violência e de todo o conjunto que a miséria humana consegue patrocinar. O coração que antes batia forte hoje arfa com dificuldades de dar pulsação e ritmo ao que está distante. Seus intestinos param dia a dia de funcionar. Os dejetos paralisam funções e não fluem como deveriam:

Contradições natalinas

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Por: Eliana Rezende A humanidade é mesmo um mosaico de contradições que se manifestam sob vários aspectos. Saio quase como que uma sobrevivente da que considero uma das maiores contradições ocidentais: o Natal! O tempo tem passado e meu desconforto com esta data é inversamente proporcional a publicidade em seu entorno. Não sei se pelo calor, congestionamentos, consumismo desenfreado, excessos de gestos, embriaguez, gulas e outras sandices guardo desta época profundo mal estar e péssimo humor. Lia outro dia como o Natal é de fato, o maior exemplo de como se descumprir em apenas um dia um rosário de boas regras e condutas cristãs. Vejamos: Segundo o professor do Instituto de Psicologia da USP Cristian Dunker que analisa que o Natal vinculado ao consumo nega ponto a ponto os valores originários do cristianismo. Para os que não sabem quais são ou nem se lembra deles aí vão: "(...) o altruísmo , e não a cobiça com os presentes;  a sobriedade , e não a ostentação de árv

Espaços de liberdade e ócio se estreitaram

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Por: Eliana Rezende Uma metáfora interessante para a vida que temos e levamos. De repente os muros que cercam nossas cidades e vidas estão cada vez mais altos numa busca frenética por segurança. A vigilância permitida acaba sendo um consenso para a vida contemporânea e ninguém já se incomoda com câmaras em locais públicos, entradas de residência, prédios e locais de trabalho. É o que em outro post chamei de vigilância consentida . Explora-se na Arquitetura o chamado conceito aberto, onde espaços integrados dão ao seu usuário a sensação de estar integrado a tudo e todos. Mas ao mesmo tempo os indivíduos vivem cada vez mais o que denominei de contradições em vidas modernas . Em verdade, os muros aqui não são de proteção e segurança. Muito ao contrário! São muros de estreitamento, cerceamento de liberdade através da exposição continuada. Mas numa situação até paradoxal e quase que numa exata proporção, nossos espaços de liberdade,  sonho e ócio se estreitaram. Cada vez mai

O Vendedor de Enciclopédias

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Por: Eliana Rezende Olhando pela vidraça da janela da sala, chegando como uma novidade esperada, vem o vendedor de enciclopédia. Eram eles que traziam o mundo em puzzle e informações à conta-gotas em formatos de verbete.  Sempre bem engomados, ternos escuros, camisa de um branco reluzente. sapatos bem engraxados e as meias combinando ora com o sapato, ora com as calças, cabelos bem penteados, muitas vezes usando alguma pomada, sorriso aberto, voz macia. Ofereciam janelas para o mundo direto de nossas portas quando de dentro de suas malas faziam surgir coloridos livros, imagens, textos e toda uma parafernália de estímulo aos sentidos e à imaginação. Sonhos, fantasias e até o mito de mascatear cultura vinham em meio à suas páginas ofertadas em diferentes composições e possibilidades. Muitas vezes folhadas ávidamente por dedos rápidos e olhares curiosos de clientes domiciliares.   Materializavam o sentido do saber e informação de um mundo que corria analogicamente, com no

A desinformação togada e o WhatsApp

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Por: Eliana Rezende Foram uma, duas, três vezes e milhões de brasileiros sendo penitenciados por uma decisão togada que revela além de uso desproporcional de força um equívoco provocado por desinformação começada na toga e concluída em praça pública. Não creio ser necessário entrar no mérito da questão judicial que de um lado pressiona a empresa detentora do serviço (WhatsApp) e a questão de quebra de sigilo de contas de contraventores ou punição de milhões de inocentes. O que me chama a atenção é a desinformação sobre o assunto da criptografia por parte dos que julgam e promulgam sentenças. Algo crasso e imperdoável. Emitem pareceres que caberiam bem no século XIX, ou no XX sem web. Mas nos dias de hoje?! Para além de tudo significar ferir diretamente o que determina o Marco Civil Regulatório da Internet no Brasil e o artigo nº 13 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos de uma única vez. Mas afinal: o que é mesmo criptografia? Se formos ao dicionário, a definição m

Cultive gênios: aprenda com os fracassos!

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Por: Eliana Rezende É muito pertinente pensarmos de que forma se "cultivam" genialidades. Ninguém as cria! Mas, uma vez existindo terreno fértil podem frutificar. A humanidade produziu diversos, em diferentes períodos e espaços, mas o tripé: mistura de pessoas, educação e incentivo a tomada de riscos e fracassos, parece de fato contribuir para que haja saltos qualitativos. Confesso que gosto muito, e incentivo a tomada de riscos e fracassos. Em geral, profissionais temem o fracasso, e se esquecem de que sobre ele podem edificar uma sólida construção. Não que o erro seja desejável, mas faz parte de um processo que, se bem conduzido, possibilita dividendos. É importante pensarmos que a educação e a formação devem ter em seu horizonte os fracassos e deles criar novas possibilidades. T al concepção favorece o cultivo das genialidades - não como algo extraordinário, mas como absolutamente possível e viável. Talvez a coisa mais importante aqui não seja o sentido de

Memórias digitais em busca da eternidade

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Por: Eliana Rezende De novo a questão das obsolescências e permanências. A crescente demanda tem imposto alguns limites e soluções precisam ser buscadas. Como não perder tudo o que se produz? E com quais custos? Muitas perguntas de fato! Creio que isso se transformar em uma reivindicação é de fato um progresso interessante. São dois pontos importantes: a busca por um direito de acesso à informação e de outro o exercício de cidadania. Diriam alguns que Tecnologia da informação é um eterno reinventar, por que existe a barreira das leis da física. Noves fora isso, o restante é com o departamento de marketing. Mas será? Poria outros dois mais: o financeiro que destina recursos, e porque não a preservação de documentos para o futuro? Como historiadora, um dos principais obstáculos que temos é a garantia de acesso a documentos através do tempo. A longa duração para historia pode significar a eternidade, já para a tecnologia ela representa tão somente casas que vão abaixo