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Mostrando postagens com o rótulo Metáfora

A casa que habito

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Por: Eliana Rezende Por muitos anos, e para alguns, o empreendimento de uma vida é ter um lugar físico que possa denominar de seu: é aquele pedaço de chão, aquele conjunto de blocos, pedras, concreto e cores, que juntos configuram o espaço denominado de: "casa". Mas, caminhando pela vida e pela existência, percebo que há moradas que fazem muito mais sentido e que nos dão o valor exato deste "habitar". A "casa" toma assim um sentido figurado e pode ser metáfora do espirito que temos e carregamos como nosso. O espirito que nos habita possui todas as características que são fundamentais para manter nossa existência. Se bem fundado é forte: suporta intempéries, dificuldades, desastres, catástrofes. É lugar de quietude quando tudo à volta parece vociferar e bradar. É ponto de luz quando tudo parece sucumbir à escuridão e penumbra. É lugar de paz quando tudo parece uma interminável batalha. Mas, afinal, muitos não se apercebem que este lugar tão

Leve sua alma para passear: dê-se tempo!

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Por: Eliana Rezende O tempo é sempre a grande preocupação de tudo e de todos. Sempre temos a sensação de que nos escapa por entre os dedos, e por mais que aparentemente vivamos, menos nos sobra dele. O tempo, logo se constata, não pode ser simplesmente medido por ponteiros e horas que insistem em correr através dos dias e anos em que nossa vida parece fatiada, retalhada, esmiuçada. Como dar aos nossos dias tempo? Como fazer com que, de tantos minutos infinitos, tenhamos de fato vida vivida e não tempo perdido, consumido, desperdiçado? Fico aqui pensando que o melhor que podemos fazer, aos nossos corridos dias, é dar tempo e vida às nossas existências levando nossa alma para passear. Mas como se passeia com a alma? Como fazer isso se muitas vezes o corpo está aprisionado em congestionamentos, transportes, baias de trabalho, ou num sem número de compromissos?! Dar descanso e passeio a alma pode significar destinar-nos tempo para coisas simples que dão a mente a possibilid

Quando as Palavras Secam

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Por: Eliana Rezende Há momentos em que as palavras adormecem. Calam-se, não conseguem dar as mãos para formar uma ciranda de sentidos, sentimentos, argumentos, convicções, ideias, utopias. Seu silêncio faz-se tão alto que torna-se ensurdecedor e nos põe diante de nossa total incapacidade de com elas travar combate. Fortes e destemidas as palavras nos auxiliam a pôr em trânsito nossas ideias e sentimentos mais profundos. São ferramentas que materializam o subjetivo que nos habita. São tijolos que constroem: de pensamentos a projetos, de sentimentos a desencantos. Colocadas lado à lado e numa ciranda perfeita podem estimular e aglutinar pares, atrair sentimentos similares, fortalecer combalidos, dar esperança a desesperançados. Mas quando elas parecem secar é como um deserto que nos toma. Nele apenas o desconforto das temperaturas, os ventos que mudam tudo de lugar e que possuem poderes de movimentar montanhas inteiras, soterrando e sufocando tudo o que está em seu caminho.

O carcereiro de nossas almas

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Por: Eliana Rezende As masmorras de nossas existências possuem muitas divisões: servem para aprisionar, enquadrar e muitas vezes sufocar o que de mais livre possa nos habitar. Como qualquer fortaleza possui paredes grossas que limitam o que entra e o que sai. Limitam espaços, circulação. Servem para dar a impressão de que tudo está seguro e imutável. Mas toda esta infra-estrutura precisa de bons carcereiros. Eles que garantem que o aprisionamento se efetive. Que nada escape, e que a sobrevivência seja garantida pelo tempo com o mínimo possível. Mínimo de investimentos, de pensamentos, de tentativas de fuga...resistência. Lá dentro o prisioneiro perde a noção do tempo, das horas, das estações. Simplesmente deixa-se ficar! E talvez seja neste ponto que o mais cruel se dá: carcereiros de nós mesmos mantemos nosso espírito ali, aprisionado, para que não fuja, para que não saia do controle de nossas masmorras de medos, conveniências, covardias, inseguranças, justificativas. Quanto

Sampa: a Velha Senhora...

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Por: Eliana Rezende Praça Carlos Gomes - SP   Sampa agoniza... Sinto-a como uma velha senhora que está morrendo. E morre, não em seu momento de glória e vigor. Deixa a cena de forma triste... é um corpo obeso que se movimenta com dificuldade: excedeu em muito suas capacidades de acomodar seus volumes imensos. Suas artérias estão obstruídos e doentes. Não lhe faltam pontos de congestionamentos, deterioração, cicatrizes... Seu pulmão falha, e quase não respira. Falta-lhe oxigenação. O cinza toma conta do ar que a alimenta.  Seu coração é o mesmo (um centro doente e volumoso) que já não acomoda e nem irriga suficientemente suas extremidades. Muitas partes sofrem a gangrena da pobreza extremada, da violência e de todo o conjunto que a miséria humana consegue patrocinar. O coração que antes batia forte hoje arfa com dificuldades de dar pulsação e ritmo ao que está distante. Seus intestinos param dia a dia de funcionar. Os dejetos paralisam funções e não fluem como deveriam:

O cortiço de nossas almas

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Por: Eliana Rezende Vez por outra sinto um grande mal estar e algumas perguntas me vem a mente: afinal, quem é que precisa de um deus, um inferno, um céu, um diabo se todos nos habitam no grande cortiço de nossas almas? Nos espreitam, acompanham, se insurgem e nos movimentam sempre e tanto! Mas é interessante como em todas as tradições religiosas são colocados para fora e para além do indivíduo como se longe ou perto significassem domínio sobre as forças do além. O Bem mantido próximo significaria bem aventurança e local certo e garantido num locus que alguns chamam céu, paraíso, mas que significariam perfeição e eternidade. Colocados num futuro ad eternum , o indivíduo passa uma existência barganhando e negociando favores e fazeres. O julgamento ora feito pelos que compartilham a fé em sua imediaticidade, ou um deus onipresente e onisciente põe em xeque princípios mínimos de privacidade: nada escapa aos seus olhos.  Do outro lado há o Mal, colocado quase sempre na f

Ceda Lugar ao Novo!

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 Por: Eliana Rezende Em uma sociedade onde consumir é a regra, ter e ostentar seja o natural, parece estranho falar em ceder espaço. Proponho substituir a tão batida palavra desapego, por ceder espaço. A palavra desapego teria um significado muito interessante, mas de tão usada e repetida parou de ter o sentido que se esperaria dela. Como tantas outras palavras, perdeu valor por ser moeda fácil e de quase nenhuma aplicação. Ceder espaço, neste sentido, dá ao desapego o sentido mais essencial de seu significado original. Ao falar em ceder espaço, parto de uma constatação muito simples: as pessoas em geral distraem-se muito com o ter e esquecem-se do ser. E explico porque considero o ter uma tremenda perda de energias: " O que temos não podemos levar a todas às partes, já o que somos vai conosco pela vida, pelo tempo e espaço. Por isso sempre é bom arranjar meios para simplesmente ser ".  (Eliana Rezende) Os entulhos espirituais, emocionais ou materiais

Nossa vida é nossa primeira ficção

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Escrito e lido por: Eliana Rezende Ouça eu ler para você (escolha a opção abrir com:  Music Player for Google Drive) Li esta frase de uma quase xará: Eliane Brum em uma entrevista, e fiquei com ela na minha cabeça porque, desde sempre, acredito muito nas histórias que contamos para nós mesmos sobre o que vivemos ou experimentamos. Em vários casos essas ficções de tão repetidas, quer pela palavra, quer por fragmentos de memórias passam a ser uma crônica. Uma crônica de nossa vida e de como reinventamos trechos de nossas histórias. Desde cedo aprendemos que alguns fatos chateiam, envergonham, constrangem, ou seu contrário: enchem de alegria, de sons, de movimentos os nossos dias. Daí a necessidade de ora nos aproximarmos deles e ora nos afastarmos. Seletivos em nossas memórias, aprendemos que podemos reinventar estes trechos e fazer deles uma longa história! E daí que as Memórias passam a compor este ficcional que vamos reescrevendo, aumentando e diminuindo de acordo

Infância roubada

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Por: Eliana Rezende Roubam-se infâncias. Expropriam-se direitos e vidas. Do lado de fora, guerra e ruínas, pouco para comer, trapos para vestir, feridas para cuidar. Janelas sem vidros, paredes cobertas de mofo. Para aquecer-se apenas o calor de outros corpos. Pés descalços e desolação ao largo. Caminhos estilhaçados feitos de abandonos, pedras e entulhos. Não há para onde voltar e nem para onde ir. Tanta agrura sob luzes e sombras...  Cenários de desolação, fome, morte, doenças e condições desumanas. A guerra retira de todos sua dignidade e vontade. Instala apenas o básico da luta pela sobrevivência, nem que esta, ao invés de pautar-se na solidariedade, paute-se na luta contra o próximo. Luta entre desiguais. Sempre... Pauperismo físico, mental, emocional... Almas carentes e em agonia de ser e estar. Mas se não estão em campos de refugiados ou áreas de guerra, encontram-se em campos de carvão, minas, oficinas, lavouras... onde suas mãos miúdas tecem, quebram, queima

Museus: faces e fases de uma metrópole

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Por: Eliana Rezende Como poderíamos, por meio de determinados ícones de arquitetura e cultura, entender uma metrópole? Experimente fazer isso com alguns deles. Comecemos por dois. Com acervos e localização à parte, os prédios da Pinacoteca do Estado de São Paulo e o MASP (Museu de Arte de São Paulo) podem nos trazer pistas interessantes sobre a metrópole e suas faces. Contam-nos boas histórias de um outro tempo e da criatividade e determinação de seus arquitetos e idealizadores. Um é representante de uma arquitetura tradicional de princípios do século XX, com projeto do escritório de Ramos de Azevedo (1896-1900) e que no decurso do tempo sofreu diversas reformas e intervenções. A última delas ocorrida na década de 1990, durante a gestão de Emanoel Araújo como diretor da instituição. E de um projeto de recuperação do prédio assinado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha . O outro é representante de uma arquitetura moderna. Em 1958, a arquiteta Lina Bo Bardi projeta o e

A dança como metáfora corporativa

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Por: Eliana Rezende É a primeira impressão a que fica? Quantos de nós somos capazes de admitir a quantidade de pré-conceitos que carregamos quando confrontados com um primeiro olhar? O exercício aqui será simples.  A dança será apenas uma "licença" para abordar temas que tem que ver com o nosso autoconhecimento e postura profissional. Uma forma divertida e inusitada de falar de preconceitos, improviso e flexibilidade nas relações. Você escolhe o ritmo e assiste a apresentação de um rock ou um tango. E, se simplesmente não resistir assista aos dois! Rock?! Tango?! Mas o que isso poderia ajudar a pensar sobre idéias preconcebidas? Acompanhe-me. Ah! E se ao final não resistir, aplauda! Todos fazem isso! Vamos ao Tango?  Agora explico o porque da proposição de pensarmos a dança como uma metáfora para o universo corporativo.  Devo dizer que transpor o que vimos, nos dois casos, tanto para nossa vida pessoal, profissional e intelectual é um exer