Democracia de sofá e mídia partidarizada
Por: Eliana Rezende
De um sofá a vida parece ser... até confortável.
Pode-se aninhar preguiçosamente, ajeitar uma ou outra almofada e acomodar-se diante da TV.
Preguiçosa e languidamente consomem-se guloseimas e toda forma de venenos prováveis e improváveis.
A democracia assim exercida fica fácil. Um consumo estreito e raso, muitas vezes sem crítica aprofundada. Chavões se repetem como mantra, ódios destilados.
A mídia (e, esta sim cada vez mais partidarizada) oferece diuturnamente um espetáculo de desinformação como tática, com esvaziamento do que seja o sentido de sua existência que é a de informar.
Como num ringue, cada um quer dar o último golpe. Aquele que levará o adversário ao tatame, sem chances de pôr-se em pé ainda durante o combate. Não importa se a vitória dar-se-á por pontos.
Em diferentes momentos vê-se nitidamente que é um vale-tudo de parte à parte.
E como tudo o que representa violência, assistida e consumida, não há crítica consistente.
Achincalhos, vazamentos, supostos istos e aquilos.
Como num roteiro escrito para dramalhões e novelas tudo transcorre bem amarrado e conduzido. De fato um espetáculo de sofá! Mas democracia é mesmo algo muito diferente. E roteiros, quando saem do script, sem dúvida causam algum transtorno.
Em verdade, o exercício da cidadania e democracia feitos a partir de sofás apresentam-se como alienantes. Viciam-se olhos e ouvidos e o mantra repetido soa como verdade absoluta, abandona-se com isso a capacidade de pensar e articular por conta própria preceitos e informações.
Paradoxalmente, e segundo os dicionários, Democracia teria como uma de suas principiais funções:
Afinal, ser bom em algumas concepções significa suprimir direitos e impor os seus próprios. Ainda que isto signifique invocar toda sorte de impropérios em nome da lucidez partidária.
Mas não há apenas os adeptos da democracia de sofá!
Há os que escolhem uma outra forma de manifestação: vão às redes sociais, e dali do seu suposto anonimato transgressões, preconceitos, ódios e mesquinharias são ainda mais reproduzidos e incentivados por seres que, incapazes de pensar sobre, replicam compulsivamente tudo o que parece ir de encontro às suas verdades.
Destituídos do sentido de convívio que a cidadania oferece, e cada vez mais isolados tais indivíduos assemelham-se a simples autômatos. Usados, apenas e tão somente, para fazer volume e compor massa de manobra. Fazem apenas eco. Servem àqueles que, sem escrúpulos, tem objetivos claros de manutenção das suas teias de poder. Servem em quantidade e nunca em qualidade de pensamento crítico.
A Internet, favorece com isto a opressão, alienação e reducionismo se utilizada, não como veículo de expansão de liberdades e livre pensamento. Rapidamente pode sair da esfera das liberdades para transformar-se na mais sórdida vilania contra o diferente, contra o Outro. Pode sair da livre expressão para a restrição e apequenamento de pessoas, ideias e projetos. Daí para intolerância, preconceito, ódio é um passo bem pequeno. Esgotadas as possibilidades de discurso racional o último e mais vil argumento é a desqualificação.
Da cômoda poltrona, ou em cima de um sofá, diante de uma tela, é fácil distribuir infâmias, achincalhos e venenos. Mas o que cada um destes faz quando estão nas ruas, no trabalho, na escola, na vida? Com o que contribuem? O que fazem para tornar sua existência e a dos demais melhor?
São estes mesmos que esperam que todo lhes caia do céu? É preciso lembrar que até isto anda em falta!
Veja São Paulo...
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Facebook: robotização e sedentarismo em rede
*
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De um sofá a vida parece ser... até confortável.
Pode-se aninhar preguiçosamente, ajeitar uma ou outra almofada e acomodar-se diante da TV.
Preguiçosa e languidamente consomem-se guloseimas e toda forma de venenos prováveis e improváveis.
A democracia assim exercida fica fácil. Um consumo estreito e raso, muitas vezes sem crítica aprofundada. Chavões se repetem como mantra, ódios destilados.
A mídia (e, esta sim cada vez mais partidarizada) oferece diuturnamente um espetáculo de desinformação como tática, com esvaziamento do que seja o sentido de sua existência que é a de informar.
Como num ringue, cada um quer dar o último golpe. Aquele que levará o adversário ao tatame, sem chances de pôr-se em pé ainda durante o combate. Não importa se a vitória dar-se-á por pontos.
Em diferentes momentos vê-se nitidamente que é um vale-tudo de parte à parte.
E como tudo o que representa violência, assistida e consumida, não há crítica consistente.
Achincalhos, vazamentos, supostos istos e aquilos.
Como num roteiro escrito para dramalhões e novelas tudo transcorre bem amarrado e conduzido. De fato um espetáculo de sofá! Mas democracia é mesmo algo muito diferente. E roteiros, quando saem do script, sem dúvida causam algum transtorno.
Em verdade, o exercício da cidadania e democracia feitos a partir de sofás apresentam-se como alienantes. Viciam-se olhos e ouvidos e o mantra repetido soa como verdade absoluta, abandona-se com isso a capacidade de pensar e articular por conta própria preceitos e informações.
Paradoxalmente, e segundo os dicionários, Democracia teria como uma de suas principiais funções:
“a proteção dos direitos humanos fundamentais, como as liberdades de expressão, de religião, a proteção legal, e as oportunidades de participação na vida política, econômica, e cultural da sociedade. Os cidadãos tem os direitos expressos, e os deveres de participar no sistema político que vai proteger seus direitos e sua liberdade”.E em nome dela, e a partir do sofás, todos estes direitos acabam sendo esquecidos, e o vizinho do lado no outro sofá pode ser seu “inimigo público” número um. Complexidades do humano...
Afinal, ser bom em algumas concepções significa suprimir direitos e impor os seus próprios. Ainda que isto signifique invocar toda sorte de impropérios em nome da lucidez partidária.
Mas não há apenas os adeptos da democracia de sofá!
Há os que escolhem uma outra forma de manifestação: vão às redes sociais, e dali do seu suposto anonimato transgressões, preconceitos, ódios e mesquinharias são ainda mais reproduzidos e incentivados por seres que, incapazes de pensar sobre, replicam compulsivamente tudo o que parece ir de encontro às suas verdades.
Destituídos do sentido de convívio que a cidadania oferece, e cada vez mais isolados tais indivíduos assemelham-se a simples autômatos. Usados, apenas e tão somente, para fazer volume e compor massa de manobra. Fazem apenas eco. Servem àqueles que, sem escrúpulos, tem objetivos claros de manutenção das suas teias de poder. Servem em quantidade e nunca em qualidade de pensamento crítico.
A Internet, favorece com isto a opressão, alienação e reducionismo se utilizada, não como veículo de expansão de liberdades e livre pensamento. Rapidamente pode sair da esfera das liberdades para transformar-se na mais sórdida vilania contra o diferente, contra o Outro. Pode sair da livre expressão para a restrição e apequenamento de pessoas, ideias e projetos. Daí para intolerância, preconceito, ódio é um passo bem pequeno. Esgotadas as possibilidades de discurso racional o último e mais vil argumento é a desqualificação.
Da cômoda poltrona, ou em cima de um sofá, diante de uma tela, é fácil distribuir infâmias, achincalhos e venenos. Mas o que cada um destes faz quando estão nas ruas, no trabalho, na escola, na vida? Com o que contribuem? O que fazem para tornar sua existência e a dos demais melhor?
São estes mesmos que esperam que todo lhes caia do céu? É preciso lembrar que até isto anda em falta!
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A medida que a tecnologia aprimora os meios de comunicação, tornando-os mais rápidos e acessíveis, o quadro de seu controle se modifica. Quem controla os meios de comunicação e qual a sua agênda particular, diz muito de como as campanhas são desenvolvidas. O que realmente vemos dos candidatos, todos eles, é somente o que faria com que fossem atraentes. Criassem prosélitos. Goebbels se deliciaria com o futuro do mundo!
ResponderExcluirPerceba a semelhança padronizada das campanhas de todos os candidatos e tome somente aquelas que, por excentricidade ou entropia, até Jesus e o diabo participaram. Veja como não houve diferença essencial em nenhuma delas. Houve, momentaneamente, algúm desvio no discurso apresentado pela Marina, mas sua indecisão e falta (noticiada) de independência fizeram com que caise no esquecimento popular demostrado nas urnas.
Voltando à vaca fria, as campanhas dos dois candidatos parecem ter sido desenvolvidas pelo mesmo estagiário de escritório de marketing político. Muda somente o estilo pessoal de quem as executa. Perderam uma ótima oportunidade de dizer ao que vieram e perdemos também uma oportunidade de saber qual deles seria a melhor escolha. Passamos a ter somente nossas apreciações pessoais e referências requentadas e maquiadas pela mídia.
Abs
LionelC
1521
Ol@ Lionel...
ResponderExcluirObrigada por teu olhar.
De fato temos dois lados a observar: de um lado candidatos, de outro a mídia. Só que neste bombardeio há os outros!
O problema de fato não é ter opinião e tecer críticas. Vejo que o grande problema é fazer de forma cega, irrefletida e compormos apenas massa fácil de manobra.
Ter um candidato não significa não ver seus pontos fracos e o que precisa ser melhorado. E o oponente não precisa ser um "inimigo a ser abatido". É apenas alguém que será preterido por um projeto global que melhor me identifico.
O que tem havido é que as pessoas estão confundindo tudo.
Não podemos nos eximir de responsabilidade ante ondas de xenofobia, preconceito, xingamentos e ódio partidário. Democracia, tolerância e respeito devem vir antes de tudo. Que exemplos estamos dando?
Abs
Cara Eliana:
ResponderExcluirSou professor (hoje aposentado) independente na orientação de mestrandos e doutorandos no quesito Metodologia Científica e da Pesquisa, preponderantemente atuando na área do Direito, mas não exclusivamente nesta.
Fiz meu doutorado na Espanha (Universidad Complutense de Madrid), nos idos de 1976, defendendo tese concentrada em Sociologia Política, cujo título é: "O homem: esse projeto mal-acabado", a qual estou traduzindo ao português, atualizando e ampliando para publicação de obra literária científica, 'sine die'.
Li seu texto com redobrada atenção. Afinal, discorre sobre o âmbito em que transito diuturnamente: o comportamento humano em seu mais amplo espectro. Permita-me dizer-lhe que aplaudi-o, silenciosamente. Sua pena é certeira, incisiva - sem ser corrosiva - e ousada. Parabéns.
Todavia, peço-lhe vênia para exprimir algumas despretensiosas considerações a respeito, a iniciar por uma simples questão: o ser humano não haveria sido sempre assim? O que distingue a sociedade dita 'pós-moderna' (liquefeita, segundo Bauman), dos antigos agrupamentos humanos que cultuavam o 'pão-e-circo'? Seria a tecnologia o grande diferenciador entre eles? Ou é apenas um processo de 'bis in idem' social?
O "sofá" sempre esteve aí, desde as salas mais rústicas às mais sofisticadas dos nossos dias. O homem (ser genérico) sempre teve o seu "sofá" e sempre o utilizou ante os cenários que transcorriam sob seu apático olhar. Comprometimento nunca foi (e nem será, me arrisco a asseverar) sua qualidade primeira, mui pelo contrário. A estrutura social humana foi sendo construída, pedra sobre pedra, sobre bases frágeis de subserviência, de dependência (lato sensu), de condescendência e - por que não? - de alienação e prostituição figurada.
Dessarte, nada há de estranho na postura por você tão bem desenhada. Mudam apenas os cenários, os avanços tecnológicos, nada obstante mantenham-se incólumes os comportamentos; infelizmente.
Permita-me renovar minhas sinceras felicitações por tão belo e educativo texto, aproveitando para colocar-me ao seu dispor, sempre que lhe aprazer. Meu e-mail pessoal é: johnny.koffler@gmail.com.
Cordiais saudações.
Juan Koffler
Eliana, como sempre, excelente texto!
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