O carcereiro de nossas almas

Por: Eliana Rezende

As masmorras de nossas existências possuem muitas divisões: servem para aprisionar, enquadrar e muitas vezes sufocar o que de mais livre possa nos habitar. Como qualquer fortaleza possui paredes grossas que limitam o que entra e o que sai. Limitam espaços, circulação. Servem para dar a impressão de que tudo está seguro e imutável.


Mas toda esta infra-estrutura precisa de bons carcereiros. Eles que garantem que o aprisionamento se efetive. Que nada escape, e que a sobrevivência seja garantida pelo tempo com o mínimo possível. Mínimo de investimentos, de pensamentos, de tentativas de fuga...resistência. Lá dentro o prisioneiro perde a noção do tempo, das horas, das estações. Simplesmente deixa-se ficar!
E talvez seja neste ponto que o mais cruel se dá: carcereiros de nós mesmos mantemos nosso espírito ali, aprisionado, para que não fuja, para que não saia do controle de nossas masmorras de medos, conveniências, covardias, inseguranças, justificativas. Quanto maiores todas elas, mais acharemos que se justificam. Tornamo-nos nossos próprios carrascos. Caminhamos de cela em cela, com as chaves nos bolsos, mas completamente refratários a tudo o que significa a liberdade do principal prisioneiro: nós mesmos!


E assim, o tempo e a vida se sucedem: oportunidades se dão, vidas se cruzam, caminhos se fazem, horizontes se descortinam. Mas nosso carcereiro está ali e realiza tão bem seu trabalho!
A vida e o tempo passam. A masmorra envelhece. Musgos a tomam. Ao andarilho da estrada fica a sensação de que ali toda a construção converteu-se num túmulo que guardava corpos e mentes, e que hoje restam apenas seus escombros. A ninguém pertence. Transformou-se num projeto do que não foi...
Assim, carcereiros de si mesmos reproduzem-se aos montes sem nem mesmo se dar conta.



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